30 maio 2009

 

As gordinhas haverão de me perdoar?


Estes dias andei meio assustado. Me perguntando: como o tempo pode danificar tanto uma pessoa? Na verdade, é (foi?) o tempo ou a própria pessoa que se deixa/deixou se deteriorar? Estas questões surgiram porque encontrei (ou desencontrei?) com uma jovenzinha, de inicial “A”, de minha adolescência, que agora deve andar lá pelos 22 anos. Eu devia ter uns 15 ou 16, ela 13 ou 14, quando andei dando umas “ficadas” com ela. Porém, neste tempo ela era uma das meninas mais cobiças de meu bairro. Muitos se dobravam à beleza dela. De fato e de direito, ela era angelical. Naquele tempo me senti privilegiado por isso... Bem, indo direto ao motivo de meu assombro: depois de largos anos, encontrei-a, e minha intuição me deixa afirmar isso, com aproximadamente redondos 80 e tantos quilos. Lógico eu não estava com uma balança para precisar seu peso, mas também se o peso de A. não fosse esse, menos não era. Não estou afirmando que as gordas são feias. Mas que descuidar-se é feio. Logo, a feiúra está mais na atitude do descuido do que no próprio descuido. Até porque existem gordinhas bonitas!

Ao falar com A. não pude esconder o espanto. “Como tudo aquilo ficou assim”, meu olhos acusaram. Descabelada, seios perto do umbigo, gorduras de fora, cara amassada; e não vou dizer o resto para que não pensem que se trata de um ser horripilante. Certo é que naquele momento pensei como Vinícius de Moraes, “as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”. Interessante que isso tudo foi tão contraditório frente a uns versos de Ronsard, um poeta francês, que descobri poemas seus nestes derradeiros dias. Os versos eram: “E como a cada dia, amo-te cada vez mais / Hoje mais do que ontem e bem menos que amanhã / Que nos importarão as rugas em nossas faces? / Nosso amor se fará mais grave e mais sereno”. Estes foram versos que ecoaram em mim. Nem de longe quero me posicionar aqui como preconceituoso. Mas acho que um pouquinho de vaidade não faz mal a nenhuma mulher. Diga-se que vaidade não é viver enfeitada e com o corpo quase raquítico. Pois é lógico que existem mulheres que só precisam passar a mão no cabelo e já estão a ponto de abalar em qualquer festa! Contudo, um tratinho aqui e outro ali nunca foi pecado. Sabemos mesmo que o que vale é o interior de cada ser humano, e isso digo com pura convicção. Ninguém é presente de natal para viver de embalagem. Só que, parodiando Vinícius, as gordinhas que me perdoem, mas qualquer descuido é muito.

27 maio 2009

 
foto: Pierre de Ronsard


Como em Maio se vê sobre um ramo uma rosa,
aberta em juventude e cheia de frescor,
tornar ciumento o Céu da sua viva cor
quando o Sol do seu pranto a luz torna chorosa;

o amor adormecido e a graça preguiçosa
perfumam os jardins e as árvores de olor,
mas, batida de chuva ou de excessivo ardor,
folha a folha ela morre em languidez queixosa.

Também a ti, também, em plena mocidade,
quando este mundo e o Céu cantavam tua idade,
a Morte em cinzas fez tuas chamas viçosas.

Recebe, pois, meu pranto e as minhas pobres dores,
esta ânfora com leite, este cesto com flores,
e que o teu corpo seja um milagre de rosas.

poeta francês Pierre de Ronsard (1524 - 1585)
(Trad. de Maria Helena, poetisa portuguesa)

19 maio 2009

 

Podemos temer a uma caneta?


Se uma caneta que escreve uma carta explicando o suicídio de seu dono pudesse falar, o que ela seria capaz de confessar, após saber dessa morte consumada? Fiquei pensando: uma caneta é um dos bichos mais desgraçados. Já que é forçada a concretizar o pensamento abstrato de quem com ela se agrega. Da mesma forma que escreve “vida” pode escrever “morte”. Da mesma forma que pode escrever “te amo” escreve “te odeio”. Uma caneta é o cúmplice mais imperceptível de quem escreve uma carta de amor. De quem rabisca uns versos na última folha do caderno, ou de quem copia a letra de uma música romântica entre suspiros.

Entretanto, uma caneta serve para tantas outras coisas. Na adolescência, por exemplo, eu usei uma para enfiar na barriga de um colega da 6ª série, quando ele havia me chamado de “filho da puta”. Cravei no lado esquerdo de seu umbigo, mas só entrou a ponta, marcando de azul aquele breve furo que gotejou sangue. Para tantas outras coisas as canetas servem de improviso. Há mulheres que as usam nos cabelos, para prendê-los. Há homens que enfeitam o bolso da camisa com uma caneta, para manter pose de intelectual. Há outras pessoas que utilizam caneta para extrair a sujeira das unhas, retirando com a ponta dela a toda massa escura ou o grude. Ora, já vi também outras pessoas tentando tirar a cera do ouvido com o fundo de uma caneta bic.

Não sei, não sei. Mas toda caneta na verdade, hoje em dia, morre é de ciúmes do teclado e da tela dos computadores. Os homens de nosso tempo são verdadeiros adúlteros. Só usam a caneta para a emergência. Podem até casar com ela, mas todo seu amor é preferencialmente partilhado com a tela plana de um computador. Caneta é sinal de emergência. Com isso toda caneta nos dias atuais o que buscam é o suicídio. Não mais suportam a dor de serem trocadas. Não aceitam ser “a outra”. Se sentem quase inúteis. Quando muito, só têm a função de assinar sobre a breve linha de um documento ou um atestado. O que diremos, nós, quando as canetas em agonia confessarem o que temeu dizer os suicidas com aquela palavra riscada, que foi corajosa e ali permaneceu, ao contrário do faz o “delete” que ali não deixa registro algum do que foi previa e temerosamente escrito?

18 maio 2009

 

Nos detalhes

A vantagem de você ser um mero pedestre é que você pode olhar para as coisas com mais esmero. Entendeu? Ultimamente, tenho sentido as coisas mais de perto. Cada vez que vou e volto do trabalho, atravesso quase toda a cidade, e noto que tenho aguçado muito o meu olhar para as pequenas coisas as quais estão tão perto das pessoas, porém pouco ou quase nada elas conseguem perceber. Fico olhando pessoas que atravessam avenidas ou ruas sempre os olhos tão cheios de espanto que não sobra espaço, por exemplo, para perceber, ainda que discretamente, uma abelhinha por sobre uma flor. Cada vez mais são pessoas que não conseguem ver poesia nas fezes de um cachorro na calçada, ou no tronco de uma árvore caído. É assim que cada vez mais as pessoas têm menos “tempo para...”

15 maio 2009

 

Da linha tênue da vida (passarimos)



Ontem alguém me falava sobre a experiência que havia tido diante da morte de uma irmã sua. Há algum tempo já. Essa pessoa, lembrando a última vez que havia falado com a falecida, dizia que tinha conversado com ela às pressas, numa ligação telefônica. Estava tão às pressas que acha que talvez não tenha dado a atenção devida. Me falando, não apresentava remorso. O tom da imprevisibilidade da vida lhe acalentava os ânimos. Porém, fiquei me perguntando: ao contrário disso, como seria a última conversa sincera com uma pessoa íntima ao saber que, em plena saúde física e mental, iria sumir da vida de repente, “não mais que de repente”? Acho que, frente a uma situação dessas, nossa relação com àquela pessoa mudaria talvez por completo. Ouviríamos a outra pessoa com mais atenção, emprestaríamos a ela nossos ouvidos como nunca, renderíamos a ela toda nossa concentração. Pois bem, a vida sendo esse processo de chegadas e idas sem avisos prévios me faz pensar que, como diria Raul Seixas, “cada vez que eu me despeço de uma pessoa pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez.”

Pensando bem, a magia da vida realmente é essa mesmo: não saber por que chegamos, e nem saber por que temos que ir. O filósofo Sêneca dizia algo parecido como “as nossas aflições são frutos das expectativas que geramos diante da vida”. E existe expectativa maior do que saber que a morte pode nos fisgar a qualquer momento. Diante disso fico imaginando as cenas da morte de grandes nomes da humanidade, que contribuíram muito entre os homens, e que de repente se vêem na linha tênue do fim da vida. Como deve ter se sentido Machado de Assis após pressentir seu término depois de ter escrito a obra que escreveu? Como deve ter se sentido Newton quando percebera sua vida esgotada após ter contribuído para avançados estudos da Física? Como deve ter se comportado São Vicente de Paulo, quando em plena atividade de caridade viu seu pulsar enfraquecer? Como aceitou Oswaldo Cruz a morte, depois de ter colaborado a fundo com a medicina?

Pois é, a vida é sempre esse pouco, mesmo quando se tem ou se dá muito. Em contrapartida, na onda do que há de mais moderno na tecnologia parafraseio Raul: toda vez que converso no MSN, que falo com alguém ao celular, que posto no blog, que invado chats, pode ser que alguém esteja falando comigo pela última vez. É porque aqui não cabe “eles passarão, e eu passarinho”. Na verdade, “eles passarão”. Mas todos nós, fisicamente, passarimos.

08 maio 2009

 

Inclusão digital: como?

Sabemos que é fato, a nossa realidade social nos dias atuais ser regada pelas influências dos meios digitais. Tanto é que hoje, por exemplo, boa parte das empresas (e organizações afins) se utilizam de serviços on-line para execução de suas atividades, no que diz respeito à relação empresa-consumidor. De outro modo, apesar de vivermos na “era da tecnologia”, é fácil notarmos a pouca preocupação de alguns gestores públicos para com a inclusão digital. É certo que alguns tem esta preocupação. Porém, poucos sabem como fazê-la. Ou seja, poucos sabem que vias tomar para instrumentalizar o indivíduo, dando a ele apoio de caráter moral para atuar bem na “sociedade da informação”.

A título de inserção sócio-educativa, a inclusão digital atualmente dá a condição de cidadão ao indivíduo, revelando ainda a transformação que emerge de um mundo cada vez mais interligado, que transpõe as pessoas a um plano em que todos se sintam “cidadãos do mundo”. E é nessa perspectiva que, como quer Mcluhan, vimos a existir numa “Aldeia Global”.

Vale colocar que, embora seja verídica a assertiva de que o computador, e outros meios digitais, seja realidade na vida do indivíduo, e isso tem crescido muito, nem sem sempre todos tem acesso a tal meio de informação. Por ora, nem sempre todos conseguem ser instrumentalizados para enfrentar as exigências de um mercado de trabalho cada vez mais rigoroso.

Resta dizer que o déficit, em nosso tempo, deve se tornar alvo de combate, digo, é algo que deve ser preocupação não só dos representantes da esfera pública, pois a sociedade deve, entretanto, ser despertada para sua própria educação digital, e assim cobrar sua assistência no que concerne à inclusão digital. Cabe finalizar, indagando: a preocupação para este tipo de inclusão, também é sinônima de “como” fazer esta inclusão?

06 maio 2009

 

Rosa, sem pétalas

Show em Garanhuns-PE

Ah, quero comentar o show que fui, da banda Rosa de Saron, levado pela mais pura influência dos outros. (Acho que já sou grandinho até demais para sofrer influências dessa natureza.) Eu já detestava esse grupo, e agora então! Ouvi e vi de perto um som capenga. É um desses grupinhos que lançam moda já acenando para a efemeridade de sua música. Um grupo que poderíamos dizer que é a metáfora do que é Paulo Coelho para a Literatura brasileira: uma demasiada artificialidade. Pois bem, levado pela propaganda da TV Globo, o Rosa de Saron vem emplacando em todas as grandes rádios. Esta emissora força a massa a acreditar que esta banda tem unção para revelar uma música católica de qualidade. Fato é que é um grupo que nada traz de novo ao cenário musical, tanto no que diz respeito à música mundana, quanto católica. É uma bandinha despetalada. Podem perguntar de onde vem minha revolta diante desta banda. E eu respondo: eu já os vi tocar bem antes, quando ainda não tinham aberto mão de um rock bem curtido. Com o passar do tempo, venderam-se às baladinhas radiofônicas como se vendessem pipoca no trânsito. Gostava do som deles, era peso puro. Para mim toda banda de rock (ainda que católica), que vende a sua sonoridade, deve ir direto para fogo do inferno, e lá ser esquecida. Curto rock, e para mim não há nada mais decepcionante do que uma banda que vende seu som. Começa mesmo pelo seu caule, se torna frágil, caem os espinhos, fica sem carola. Rosa apenas, despetalada.

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