29 agosto 2008

 
(Pintura: "Nú na água" - Salvador Dali)

COMO SE COMPORTAR?

Nunca fui de, propriamente, observar o comportamento dos outros. Talvez uma falha minha. O creio porque penso que conhecer a conduta do próximo talvez nos ajude a amá-lo, ou, pelo menos, suportá-lo. (“Ama teu próximo como a ti mesmo”). Entender como o ser humano se comporta é mais do que entender porque ele reage de tal forma. É se posicionar em um ângulo que permita compreender porque a reação de indivíduo para indivíduo varia diante de uma mesma circunstância. Nesses dias, lendo algo sobre o psicólogo suíço Jean Piaget (1886-1980), achei interessante o posicionamento dele frente aos condicionamentos do comportamento dos seres vivos, que, segundo ele, “é um comportamento não inato”. Para Piaget, o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Portanto, uma visão interacionista do desenvolvimento. Assim fica compreendido porque, por exemplo, trabalhando numa mesma empresa, às vezes algumas pessoas conseguem ser felizes nela, e outras, por ora, são extremamente infelizes: entre outros, a acolhida é importantíssima. Logo, será serena, leve, descontraída, sossegada, tranqüila, uma pessoa que seu ambiente humano lhe acolheu bem, o que fez com que seu comportamento lhe conferisse ser uma pessoa determinantemente adaptada ao seu meio. Por outro lado, será pesada, tensa, introvertida, uma pessoa em que seu local de vivência se mostra repugnante. Daí a explicação. (“O homem que nasce entre feras, sente também a necessidade de ser fera”). Nosso comportamento é, então, o resultado do ambiente em que vivemos. Somos gelo se se fizer diante de nós uma geleira. Somos fogo, se as coisas estiverem incinerando a nossa frente. Nosso comportamento é a maneira mais prática de acusarmos como nos sentimos entre os seres. Em tais lugares. Mesmo sem saber amar o próximo. Ou sem entender como amar ao próximo, que, afinal, é a maneira mais incompreensível de se comportar.

22 agosto 2008

 
(Foto: Wagner Marques)

ENTRE OS PAPÉIS AVULSOS, PAGAREI A CONTA DO ALIENISTA


É impossível falar em Machado de Assis sem citar alguma obra sua. E ainda não descobri o porquê disso. (Normalmente acontece quando se fala sobre qualquer escritor?). Talvez pelo fato de seus leitores terem incutido em si a máxima que prega que “a obra é mais importante do que seu autor”. Já parei para refletir umas duzentas vezes acerca disso, e sempre chego à conclusão que não concordo. Defendo que sem o criador não nasceria a criatura. Sem o escritor não nasceria o livro. Se não fosse Deus eu não estaria escrevendo o nome dele agora. (Risos). Logo, sendo a criatura subordinada ao seu criador, já é mais que uma boa razão para que aquela (a criatura) se dobre a este (o criador). Não sei, digam o que disserem, mas acho interessante, sim, discutir o criador em si. É. Creio que a vida (biografia?!) de certos escritores são mais interessantes que suas obras – que seus livros. Verdade.

Pois bem, em vez de ficarmos eternamente martelando – como é de costume – se Capitú traiu ou não traiu Bentinho (que é evidente que traiu!) poderíamos nos perguntar, por exemplo, o porquê de o autor de Dom Casmurro mascarar tanto sua epilepsia, de tal forma que fazia com que muitos pensassem que ele era o mais saudável dos indivíduos. Tá certo que nunca coube a quem tem (ou teve) alguma enfermidade sair por aí a expondo ao mundo. Porém, escritores como Dostoiévsky e Flaubert (dois dos maiores nome da Literatura universal; o primeiro, russo; e o outro, francês) nunca esconderam os ataques que tinham – da mesma natureza dos de Machado – e nunca sofreram (nem suas obras) sequer um arranhão a mais por causa disso. Bem, é fato que há a possibilidade de ter na obra de alguns escritores mais de sua vida do que imaginamos. Contudo, isso só ganha relevância até quando não descobrimos. É o lado desvalido da moeda. Assim mesmo, leio Machado, aos poucos. Todavia se eu desconfiar acerca do que afirmei acima, que pode (sendo ele um escritor) ter mais de sua vida na sua obra do que imagino, descrio o Machado que criei. E julgo-o criatura “póstuma”. Pago a conta do “alienista” pra ele nunca mais saber quem ele foi. Apago seu “memorial”. Dou-lhe “cá um murro”. Mando ele parar com essa coisa de “iaiá”. Vou crer que “Helena” nunca foi mulher de verdade. (Já que ele nunca creu em “ressureição”). Por fim, desprezo seus papeizinhos, “avulsos”.

21 agosto 2008

 

Foto: Michael Phelps (Pequim, 2008)

O preço de um dia não fazer nada de importante!

“Ele não será capaz de fazer nada de importante!”, foi o que sentenciou a professora da escola primária à mãe de Michael Fred Phelps, quando ele tinha 9 anos. Acusando o pequeno Phelps de ser um aluno de fraco poder de concentração – por causa de sua hiperatividade – coisa que comprometeria o desempenho de suas atividades, sua professora, no primário, pouco apostou naquele aluno, que segundo ela, “nunca seria capaz de fazer nada importante, porque era incapaz de se concentrar”. Contrariando o diagnóstico de sua professora, Michael Phelps tornou-se o maior atleta olímpico de todos os tempos. Não obstante, este ícone das piscinas ao ganhar a primeira de suas 14 medalhas de ouro, em Atenas, no ano de 2004, confessou ter lembrado no pódio das palavras da professora, ouvindo o hino nacional norte-americano. A Própria mãe dele, Debbie, afirmou: “Ele também era difícil de lidar na hora das refeições, porque sempre tinha que estar fazendo alguma coisa com suas mãos”, coisa que o próprio Phelps afirma ser dado concreto: "Em meus dedos do meio eu gostava de ficar rodando lápis ou canetas, mas se eles não estivessem disponíveis na hora do jantar eu tentava usar o saleiro ou uma faca. Devia saber que não podia rodar copos de leite..." Desta forma, acredito que apesar da idade que tenha qualquer ser humano, sempre é arriscado julgar a capacidade alguém. Imaginem se Phelps se rendesse às palavras de sua professora? Talvez nunca tivesse quebrado 32 recordes mundiais, e conquistado o maior número de medalhas de ouro (oito) numa só edição na história dos Jogos Olímpicos de Verão, nos jogos disputados em Pequim, neste mês de agosto de 2008, superando as sete (7) medalhas de ouros de Mark Spitz conquistadas nos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972. Portanto, aos 23 anos, ser o maior nome da natação mundial, foi o preço que Phelps pagou por ter acreditado em seu sonho. Pergunto: estamos dispostos a pagar o preço de não dar ouvidos às pessoas e correr atrás do que desejamos?


15 agosto 2008

 
na foto: o educador Paulo Freire

DOS DIREITOS DO LEITOR

“A leitura de mundo precede a leitura da palavra”. Com esta teoria, Paulo Freire revolucionou o pensamento moderno sobre questões voltadas para o trato com a leitura e com a alfabetização. Pois bem, Freire pregava que não há como, por exemplo, saber o que significa uma cadeira se antes o objeto não for apresentado, e daí em diante fazer com que este próprio objeto faça parte de uma convenção social. Ou seja, daí ficaria estabelecido que cadeira deveria ser algo que servisse de assento para uma pessoa e que tivesse “quatro pernas”, enfim... Porém, a idéia do autor de Pedagogia de Autonomia é que a palavra só ganha sentido depois de conhecido o objeto sobre o qual se fala. Portanto, todos lemos antes mesmo de termos uma prévia concepção da carga semântica que as palavras trazem. É uma prática a qual, inexoravelmente, todos fazemos. Mesmo quando não queremos. Por outro lado, a leitura da palavra é arbitrária. Quem nunca ouviu uma ou outra pessoa dizer “não quero ler este livro”, “não gosto de ler jornal”. Apesar de se esquivarem da leitura da palavra, não tendo consciência de que é através dela que as coisas ganham significado, as pessoas – a todo momento – vivem numa ponte de mão dupla com a palavra e com o mundo. Assim, o leitor tem direito a optar pelo seu modo de leitura, segundo suas próprias convicções. Inclusive a convicção de não se sentir leitor. Ultimamente, lendo o livro Como um Romance, do escritor francês Daniel Pennac, achei interessante, e ao mesmo tempo polêmica, a lista que este escritor traça sobre alguns direitos imprescindíveis do leitor. São estes: o direito de não ler, o direito de pular páginas, o direito de não terminar um livro, o direito de reler, o direito de ler qualquer coisa, o direito ao bovarismo (doença textualmente transmissível), o direito de ler em qualquer lugar, o direito de ler uma frase aqui e outra ali, o direito de ler em voz alta e o direito de calar. Mesmo diante disso, sou do time dos que pensam que, mesmo não lendo, estamos lendo. Lemos o tempo todo. Ininterruptamente. A palavra e o mundo precedem o homem. Somos apenas a continuidade do verbo que se torna objeto. Indistintamente.





07 agosto 2008

 



Política X Literatura


Acerca das sacanagens da canalha política da cidade que me viu nascer, tenho recebido alguns e-mails de leitores – sobretudo do Jornal Gazeta, o qual colaboro – procurando saber qual minha opinião diante dos fatos que tem acontecido na gangorra política que vem trucidando a dignidade do que se pode chamar de “disputa eleitoral em Garanhuns”. Vejo-me então numa situação complicada. De imediato, porque na coluna (com escoliose?), do mensário que propus escrever, restringi meu espaço exclusivamente às minhas impressões de leitura, comentar obras literárias, publicar meus contos, fazer apresentação de escritores; enfim, discutir Literatura e/ou as manifestações artísticas locais ou não etc. Desta forma, não quero fazer de minha coluna um palanque para partido ou político que venha, a pouco custo, querer ganhar minha simpatia. Se sou neutro? Não, nunca! Não acredito em homem neutro nem tampouco homem apolítico. Apenas penso que só cabe a uma pessoa que consagra sua alma à Literatura se colocar no meio de caprichos políticos quando o “fazer política” neste município deixar de ser um comício de ponta de beco para, de fato, se tornar um espaço de discussões de idéias e de propostas que possam realmente resolver a escassez de emprego em nossa cidade, bem como a diminuição da criminalidade, da violência e da fome; oportunizando com isso, o direito à cidadania, a uma vida digna, que mantenha respeito para com a moral humana do indivíduo.


Pergunta-se, à vista disso: é possível ao escritor isentar-se da política? Para quê escrever? Tem como alguém que escreve se fechar em uma redoma que não deixe que sua escrita seja ferida pelo contexto social ao qual esteja inserido? Estas são questões que desembocam sempre na máxima interrogativa: “Por que escrever?” Aí está. Acredito que talvez seja mais fácil buscar responder a uma pergunta como esta do que querer entender o risco que se corre ao tornar a própria escrita uma mera via de panfletagem política. Digo apenas que escrevo porque sou egoísta, puramente. O escritor George Orwell, dizia que a espécie de egoísmo que surge no escritor, nasce do “desejo de ser comentado, de ser lembrado após a morte [...] É uma falsidade fazer de conta que este não é um motivo forte”. Porém, vou mais longe ainda. Escrevo porque tento me desconstruir, dissolver-me. Meu egoísmo é só uma maneira de relacionar a pessoa que não sou com aquela que não pretendo ser. Escrevo por impulso, por mero despropósito e pela falta de responsabilidade com o que me foge e me alcança. Escrevo porque é justamente nas palavras onde estão as coisas inalcançáveis.


É difícil afirmar isso, mas, apesar de serem lembrados, literatos como o sergipano Tobias Barreto ou como o russo Maiakovski, tiveram um pouco da essência de suas obras ofuscadas ao tentarem engajá-las a causas partidárias. Eis o risco que corre um escritor ao politizar, estritamente, sua Literatura; pois tal feito passa a ser o caminho mais ordinário para que hajam leituras equivocadas, que vêm a gerar decadência estética na obra, por vezes, reduzindo-a a forma panfletária. Não que aqui eu esteja pregando a impossibilidade de haver (pois sabemos que há!) aqueles escritores que se deram (e se dão!) bem ao mamar na Literatura e na Política. De qualquer sorte, a arte literária ao longo do tempo ocupa-se também da política, uma vez que, sendo arte, a Literatura é inerente à alma humana e, portanto, ao se alimentar da política, ambas se tornam necessárias a qualquer coletividade. Finalizo o que foi aqui posto com mais uma colocação de Orwell, que acredito contemplar a posição de um escritor frente à sua introjeção na política: “Quando se envolve em política, um escritor deveria fazê-lo como cidadão, e não como escritor”.


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