30 setembro 2008

 


Decreto de Acordo Ortográfico é assinado pelo Presidente Lula


Ontem, na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, o Presidente Lula assinou decreto que estabelece o cronograma para a vigência do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. O “fim do trema”, “a supressão de consoantes mudas”, “novas regras para o emprego do hífen”, “inclusão das letras w, k e y ao idioma”, além de “novas regras de acentuação”, são algumas mudanças previstas neste Acordo, que entrará em voga a partir de janeiro de 2009. Todavia, as duas normas ortográficas - a atual e a prevista no acordo - terão valia como corretas nos exames escolares, vestibulares, concursos públicos e demais meios escritos até dezembro de 2012. Para unificar o registro escrito nos oito países que falam Português (Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste, Brasil e Portugal), o Acordo Ortográfico foi assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990. Segundo o Ministério da Educação, essa medida facilitará o intercâmbio cultural e científico entre os países, e ampliará ainda a divulgação do idioma e da Literatura em língua portuguesa; o que é por demais louvável, uma vez que cada vez mais percebemos novos escritores, por exemplo, de origem africana publicando ótimos livros de contos ou romances em Língua Portuguesa e, infelizmente, estes acabam sendo impermeabilizados pelas grandes editoras, que em sua maioria dão preferência à publicação de escritores de línguas universalmente mais usadas.

24 setembro 2008

 

foto: Calçado


CIDADEZINHA DE PÉ NO CHÃO


Estive ontem em Calçado, cidade pertencente ao Agreste pernambucano. Fui ministrar uma oficina de Literatura, inclusa no III Pernambuco Multicultural: um festival promovido por uma escola da rede estadual de ensino. Boas experiências. Cidade pacata, de gente nas portas. Não uma “cidadezinha qualquer”. Mas uma cidade miúda, que tudo parece ser amiúde devagar, tipo: “Um homem vai devagar/um cachorro vai devagar/um burro vai devagar”. Fui bem recebido pelo pessoal da escola, sobretudo pelo poeta e amigo professor que me convidou para ministrar a oficina, falo do companheiro Jorge Silva. Iniciei a oficina após um lanche pomposo. A oficina aconteceu na biblioteca. Trabalhamos músicas de Chico Buarque, pintura de Munch, poemas de Drummond, entre outros. Posso dizer que a partir da imbricação destas várias linguagens surgiram bons poemas, com muita originalidade. Foi uma manhã produtiva: acredito que tanto pra mim quanto para os alunos (por sinal muitos sensíveis à Literatura) da oficina.


Posteriormente ao almoço, alguns mergulhos na net, no laboratório de informática da escola em que estávamos. Foi tempo de dar a hora de regressar à minha Garanhuns. Antes, uma boa volta na cidade. Observando seus aspectos geográficos e “arquitetônicos”. Cidade de povo acolhedor, que fica de cabeça na janela espiando o pouco movimento das pessoas nas ruas, de gente descalça, de gente com o pé no chão. Porque lá não dá para ficar descalço sem sentir o chão, que lá é coisa boa. Cidade em que os poemas se escondem. Em que a vida parece esconder-se nos moleques sobre as calçadas, nas velhas debulhando o feijão no terraço, no verde arrodeia as casas, nos cigarros dos bêbados nos bares. Peguei o ônibus de volta. Viagem fervente. Confesso que cheguei em casa um pouco cansado. Porém não pude nem pensar em cansaço, ainda teria a etapa da noite. Mais aula. E assim fui. Vou. Correndo. Dando meus pulos, daqui, dali. “Êta vida besta, meu Deus”.


19 setembro 2008

 

Pintura de Salvador Dali


IRREMEDIAVELMENTE


Quando fico sem fazer nada fico me desocupando. Inventando na desocupação uma maneira de tudo fazer sem preencher a falta do que descubro – preciso mentir que não faço nada: para no poder das palavras encontrar o conforto que me falta: o tempo que me foge entre as mãos. Foge como um espirro na poeira, como um cavalo que vê a porteira aberta. Nas palavras é que estão a liberdade e a desgraça de um homem. Liberdade porque todos têm o direito de usá-las, e desgraça porque todos têm o dever de se comprometer com o seu uso. Fico então explorando o direito que tenho de usar as palavras para inverter a ordem das coisas, fico fingindo que posso dizer as coisas como se elas não estivessem ditas no que calo. Digo coisas sem me comprometer com o que digo. Desdigo, melhor dizendo. Todo homem que se preze tem que ser um pouco contraditório. A retidão de um homem o torna ridículo. Por isso, por mais que um homem seja extremamente infeliz, um sorriso diante de sua lágrima revela sempre uma grandeza de espírito. Ora, todo homem é desencontro. Todo homem deve perder-se. Inventar-se. Isso explica porque fico me inventando sem compromisso algum com a pessoa que crio. Ou aborto. Encontro na falta do que faço, coisas irremediáveis. Coisas que não se ajustam por si: uma sombra estranha que se esvai, um ponto firme como um poste na calçada, uma pena que se solta de um ninho, uma palavra perdida no dicionário, um cachorro com fome à porta de um restaurante, a medida vazia entra a voz e o silêncio. Me desocupo de coisas que não dá pra esquecer. Preencho o que falta com a dor que não cansa, remedio com a mentira o conforto de não poder estar, sem nenhum estranhamento.


17 setembro 2008

 

Pintura da Caravaggio



CORAÇÃO X MORTE


A morte mais justa é quando se morre do coração. Ele pára, diz que não quer mais e pronto: o corpo acata. É uma morte sincera. Sem fingimento. Quando se morre de algum problema cardíaco parece que se morre como uma bolha de sabão flutuando no vento: se morre leve, sem se ver, com conforto, sem roubar atenção de ninguém. Paradoxalmente falo isso, é óbvio, sem ter tido a experiência da morte. Mas sei que a morte não tem muito segredo não. A morte é só atravessar a rua que dá para uma outra, desconhecida. Morrer é brincar de se esconder sem sair do esconderijo, mesmo após o término da brincadeira. Daí, eu achar que nós, meros mortais, devemos dar alguma contribuição à vida. Mesmo sabendo que às vezes ela é ingrata, cruel. Porque a mesma vida que nos dá, nos rouba o coração, nos toma ele, ou pelo menos faz com que ele se negue a bater a hora que quiser. Penso que o coração é uma pilha, um troço que não pensa, que não sente cheiro de nada, nem tem sono à noite. O sono do coração é a morte, como a insônia é a vida dos que estão vivos.


16 setembro 2008

 








Nest post, venho partilhar com o leitor, as imagens que eu registrei das minhas orquídeas, floradas. Fotografei neste domingo (14) pela manhã. Contemplem!.



12 setembro 2008

 
Pintura de Pablo Picasso

Ensino da língua: importância x compartimentalização

É certo que – mesmo considerando alguns estudos avançados acerca da prática pedagógica voltada para o ensino da língua – ainda é perceptível, no atual cenário da educação do Brasil, algumas deficiências no trato com o ensino da língua materna. Primeiro, porque muitos professores de Língua Portuguesa não despertaram para importância a qual sua disciplina tem. Depois, porque uma quantidade arrebatadora destes mesmos professores trabalha a língua materna fragmentando-a. Ou seja, é criado um bloco extremamente compartimentalizado, que ergue muros entre a Produção textual, a Análise lingüística e a Literatura.

Sabemos que são poucos os âmbitos escolares que, de fato, se preocupam em reconhecer, pensar e analisar o desenvolvimento da habilidade e competência comunicativa de seus alunos. Talvez não façam por, entre outros, não entenderem a dimensão que estes podem propiciar para o alargamento social do educando. Por ora, vale ressaltar que é a escola quem lança, ou pelo menos deveria lançar, as bases da formação do indivíduo. Cabe, pois, aos professores despertarem para a responsabilidade que têm dentro desse processo educativo-transformador.

Por outro lado, a compartimentalização do ensino da língua (a qual muitos professores aderem) tem extraído todo o dinamismo e as formas lúdicas de se estudar a língua materna, uma vez que os professores, em sua maioria, executam um projeto de ensino lingüístico que acaba determinando irredutíveis limites, por exemplo, entre um texto e seus elementos constitutivos, ou a elaboração de um texto e suas condições de produção, ou, ainda, um verbo e seus diversos significados.

Diante disso, percebemos que, mais do que pensar a prática voltada para o ensino da língua, devemos pensar na significação que o domínio das competências e habilidades comunicativas podem causar na vida e no cotidiano do indivíduo, haja vista que este mesmo domínio é uma das portas para a ascensão social, para o mundo da informação e para a cidadania.

Por fim, como escreveu Paulo Freire, em seu livro Pedagogia da Autonomia, “ensinar exige reflexão”. E é refletindo a cada dia a prática do ensino que, por excelência, perceberemos o quão é salutar pensar num ensino da língua materna que nos faça intervir no meio em que estamos inseridos e, ao mesmo tempo, inserindo outros.

08 setembro 2008

 


CONVERSAR NA INTERNET FAZ BEM PARA A SAÚDE

Escrever sobre experiências pessoais tem efeito terapêutico e fisiológico


Estudos recentes demonstraram que conversar por meio da escrita faz bem para a saúde. Segundo pesquisas, escrever sobre experiências pessoais, pensamentos e sentimentos tem efeito terapêutico e fisiológico. Para os cientistas, o ato de escrever em blogs, por exemplo, permite aprimorar o sono e a memória, estimular a atividade dos leucócitos (glóbulos do sangue responsável pelo combate a doenças) e reduzir a carga viral de pacientes com AIDS, e até mesmo acelerar a cicatrização após uma cirurgia. Os efeitos benéficos dos blogs em pacientes com câncer já foram relatados em revistas de oncologia e os cientistas agora tentam explorar as bases neurológicas em jogo.

Alguns hospitais, inclusive, já passaram a disponibilizar espaço em seus sites para que pacientes criem seu próprio blog dentro do portal. Então, se você está com problemas, não perca tempo, crie logo o seu blog e comece a despejar seus sentimentos na rede. Há diversos servidores que oferecem espaço gratuito para o diário virtual interativo.

Fonte: revista Pró Teste (da Associação Brasileira de Defesa do Consumidor), setembro/2008.


05 setembro 2008

 


CONSIDERAÇÕES SOBRE UM CADEADO

As coisas banais são as coisas as quais são mais interessantes para se escrever. Por exemplo, estava eu aqui no ambiente de trabalho e fiquei observando um cadeado fechado ao ferrolho da porta que fica a minha frente, em uma das duas portas da sala. Boa. Escrevi-o. Dei-lhe vida. Antes pensei: “o que escrever sobre um cadeado?” Ora, respondi a mim mesmo: “O que vier à mente”. Um cadeado: um objeto, frio, quieto, que fica inerte, detendo o poder de submeter o ferrolho ao abrir ou ao fechar da porta. Um cadeado parece um carcereiro, uma história mal contada e abandonada. Um cadeado nos dá a sensação de abandono, de coisas que ficam paradas porque têm a necessidade de se sentirem abandonadas. É muito triste um cadeado. Todo ele tem uma cara de coisa mal resolvida. Um cadeado é um bicho sem autonomia. Um objeto trancado nele mesmo. Todo e qualquer cadeado não tem saudade de suas chaves, pois eles gostam é de silêncio, de tranqüilidade e de paz. Cadeado não permite, ou melhor, não gosta de ser observado. Percebi. Cadeado gosta é de discrição. É um objeto circunspeto. Que não entende sequer porque é visível e grosseiro, rude. Um cadeado é tão apático que gosta é de prender qualquer coisa, como um alçapão que pega passarinho vadio. Cadeado gosta que o deixem sossegado. Vou fazê-lo. Já o observei demais. Ele agora é quem olha para mim. Paro por aqui, antes que ele me prenda, prenda minha minhas palavras, que são passarinhos, vadios.

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