31 janeiro 2009

Mais ou menos o que devo dizer, hoje, ao leitor, façam-se as palavras de Graça Graúna, as minhas:
“Não sei o que dói mais:
meu vôo desajeitado
ou meu coração
de pássaro ferido”
(Graça Graúna)
24 janeiro 2009

Pintura de Bouguereau (Jovem defendendo de Eros)
POR BAIXO DOS LENÇÓIS DOS GÊNIOS
Talvez ninguém pudesse achar interessante pesquisar a vida íntima de determinados intelectuais. Sobretudo, a vida sexual. Não foi o caso do jornalista inglês Edward Abelson. Recentemente, li seu livro: A vida sexual e afetiva dos gênios, obra que trata da intimidade carnal de grandes nomes da Literatura universal, a saber alguns destes: Balzac, Byron, Ágatha Cristhie, Dante, T.S. Eliot, Flaubert, Hemingway,Victor Hugo, Ovídio, Sócrates, Virgínia Woolf, Verlaine, e outros. E entre estes, se encontra com facilidade casos de homossexualismo, bigamia, lesbianismo, incesto e adultério. Assim, abaixo relaciono alguns trechos que garimpei no livro, que não tratam necessariamente da idéia do livro, mas dão o tom do que ele aborda:
“Um homem que não é casado é apenas metade de um homem, então um homem que é muito casado é apenas metade de um escritor” (Cyril Connolly)
“Minha querida, não importa o que você venha a fazer, mas nunca se case com um homem de talento” (Thomas Carlyle)
“Casamentos felizes, como nação felizes, não têm histórias” ( Maurice Colbourn)
Outro trecho interessante do livro, a história do escritor Jonh Dryen (1631-1700). Quando falecido, sua esposa, com a qual nunca viveu muito bem, Lady Elizabeth, pôs em seu túmulo o seguinte epitáfio:
“Aqui jaz minha esposa. Ela está descansando, e eu também”
21 janeiro 2009

ENDO-VENOSA
Eu estava apenas com uma marca de sangue nos pulsos – que crescia – contemplando a cor vermelha como se não tivesse medo da macha de luz que aquilo poderia me causar. Era leve a sensação que sentia. Dava bolas para mim mesmo, ao assumir que sentir algo deslizar por entre as mãos e gotejar no chão não fosse sinal de leveza. Mas, ao ver aquilo, e fingir que não era incômodo ao que meu coração acusava, era quase uma dor arrancada a qualquer custo. Porque tem coisas que doem, mas que só nós mesmos é quem podemos tanto sentir a dor, quanto arrancá-la, assumindo a covardia do que há por trás do que não ousamos revelar. E quando me atrevo não revelar o que me condena, ou o que me acovarda, é como se eu me despedisse de mim em plena chegada. Podia tramar misérias para mim, correr, dar pulos, inventar que meus pulsos brincavam de provocar as veias – e ainda, sim, isso não seria tudo. Porque o que me atraia não era o que escorria de meus pulsos, mas tão somente meus próprios pulsos enterrados na mesa da sala, como se confessassem que haviam fracassado, e nisso havia um pouco de dor: porque era algo revelado. E as coisas só se revelam por dois motivos: ou porque não suportaram o silêncio, ou porque a verdade se fez maior do que a calmaria que poderia causar a paz do que estava escondido. Daí surgia o movimento lento de meus dedos, que tateavam a toalha da mesa, buscando nas imagens que encerravam seu estampado alguma promessa de vida; pois que a vida nada dá se não suborná-la. Do que a ela dei, ficou latejando, mais não escorreu – porque só se deve dá a vida o que ela não precisa, é demais mais tarde quando se percebe isso. Pois não se opta: se morre engasgado: com o próprio sangue a entupir as veias.
20 janeiro 2009

DIA 20 DE JANEIRO DE 2009: O ESPERADO DIA DO SUPER-OBAMA
Sem um vulto de dúvidas, o mundo vive hoje um momento único na política universal: dia
14 janeiro 2009

WORDS
Pedra, chão, asfalto. Bolha, tridente, mergulho. Casa, porta, entrada, disco, correria. Nave, neve, córrego, galhardia. Bastão. Corrida, marujo. Carrapato. Magia, músculo, marreta. Caramujo, vinho, lavadeira, estação, duas, outra, mais. Ponto. Parede, falha, mordomia. CD. a.C. antes, Cristo. Amigdalite, grito, abafado. Prataria, guloseima, faca. Areia, paralelepípedo, alma, contraste, claridade. Cadeira, vassoura, luminária. Escarlate, latido. Bóia, quente. Caramanchão distância colorido fulgência pontilhado frevo coração. Borracha barranco descida. Azulejo, poeira, brilho invadia lugar corrente. Revista. Tela. Música. Isca, prenda, escama, fio. Clic, arrastado, mouse. Namorada, atenção, agora. Página, fotografia, preto branco mescla conexão instante. Linha corte rabisco toque ninguém voz. Partes, construção, dormitório, declamação, imposto, coisa, nada, tradução. Telefone, emprego. Mordomia. Avó. Ovo. Móvel, sandália, cuscuz, leite, açúcar. Sono, colchão, sacanagem. Tijolo, brita, corre-mão. Espermatozóide, caminho, fecundação. Graveto, fruto, correção, casaco. Calor, tremulação, engano, conversação. Osso, roído, pêlo, promiscuidade, paragem. Carlos, despedida, ensaio, dedos, ar. Tamborete, sangue, sujeira. Caçôo. Vidro. Vírgula. Travessão. Nitidez, verbo, saco. Abacate, água, dor. Capítulo, senha, flecha. Saudade, bola, letra, tirada. Seta, papel. Carona. Sapo. Iate. Dois, pontos. Friagem reticências
10 janeiro 2009

PSICOLOGIA DE UM DIA
Logo ao raiar do dia: acordei como quem foge. E como se não bastasse o espasmo solar que reluziu em minha janela, de pronto invade-me uma sombra fresca como que atrevida. Então – sem fartar-me – de pressa dirijo-me ao banheiro. Um jato de água gelada no rosto, e umas escovadas boas nos dentes, conseguiram me avivar por completo, definitivamente. Não fosse isso, uma friagem espessa me entra pelo vasculhante como se procurasse algo. Já embaixo do chuveiro, deixo os fios de água me escorrer como se entregar meu corpo às gotas e ao ralo fosse a maneira mais covarde de fazer um pouco do que sonhei durante a noite fugir em meu suor – que era agora a água e a sede do que não finjo não confessar a mim mesmo. Enxugo-me, trombo na pia. Um banheiro pequeno é sempre uma promessa de pancadas. (Afinal, o banheiro é o lugar onde mais se fica à vontade.) Abro a porta do banheiro. Saio. Vou ao quarto. Visto uma roupa: cueca, calça, tênis, camisa. Não é preciso pentear bem cabelo. Deixo-o mastigado. Endereço-me a cozinha. Espero a água ferver, faço café. Goles apressados. Sou invadido por uma onda de pensamentos que me perseguem até o último giro da chave, ao fechar a porta quando ao sair de casa. Troco de calçadas. Cruzo as ruas como quem não sabe aonde vai. Sou todo ouvidos. (Ouvir é deixar as coisas chegarem perto de nós). Deixo apenas o barulho das buzinas dos automóveis e o chiar dos pulmões dos transeuntes me seguirem. Porque para aonde vou só meus passos o sabem. Vou, somente. E quando mais tarde chegar, quero apenas ter a certeza de que o dia seguinte será unicamente o fluxo do que minha vida segue, sem quem a noite me apresente o que o próximo dia me prepara.
03 janeiro 2009

Pintura de Caravaggio
DO AMOR, DE QUALQUER FORMA
Um amor falso também é amor. Não é a falsidade que desmente o amor, pois o amor tem mil faces e aceita tudo, até a própria inexistência dele. Todavia, a inexistência do amor é o silêncio e o esforço que fazemos para não amar ninguém. O amor aceita resistência; é como um pinto que foge da asa da mãe, descobre o mundo e desiste de voltar ao aconchego materno. Um amor quando é falso não é um amor menor, é só um amor indiferente à fidelidade do que deveria ser o amor puro. Pureza não é qualidade. Para o amor não se define o que é qualidade, porque o amor é uma mistura de tudo que duvidamos. É uma mistura de tudo que desistimos de entender, é um entendimento ao avesso. Um amor para ser falso tem que ser um amor que viva só de sorrisos e alegrias, porque o verdadeiro amor, se é amor mesmo, existe nele um breve sofrimento. Não é amor aquele que no início não apresenta prévios obstáculos e impedimentos. Contudo, não deixa de ser amor. O amor verdadeiro nos anula, enquanto que o falso nos reveste, nos dá uma roupagem fora de nosso número ou tamanho. Quer seja muito quer seja pouco, o amor não exige uma quantidade exata, ele apenas exige intensidade – independente de ser verdadeiro ou falso. O amor é um pouco de tudo que não podemos entender por completo; mas, por outro lado, não é nada que devemos afirmar como desnecessário, já que precisamos amar e sermos amados para nos sentirmos falsos com nós mesmos. Na verdade, o amor começa quando a falsidade termina. E a falsidade começa quando o amor esquece de avisar que nasceu. Vai entender...