17 julho 2009

 

Quando os postes não esperam

Foto: orelhão da Rua Antônio Cesário Brasileiro (por Wagner Marques)

“Diga o que disserem, o mal do século é a solidão”. Esse é um dos trechos de uma das letras de Renato Russo que mais curti em minha adolescência. Esperando por mim é o nome da música. Lembro que estava um pouco down quando pude sentir o que me dizia esta música. Algo muito pessoal. Tão pessoal quanto uma conversa ao telefone. Por falar em telefone, por estes dias cheguei à conclusão que os orelhões, em nossa contemporaneidade, sofrem de uma solidão absoluta. Bate papos virtuais, Chats, MSN, Orkut, celulares etc. são meios que ceifaram a urgência dos orelhões. Penso que nunca na vida os orelhões se sentiram tão inúteis quanto se sentem agora. A inutilidade é irmã da solidão. Exemplo disso é quando estamos amargurando a solidão: sentimos-nos a mais inútil das criaturas. Na mesma perspectiva, quando nos sentimos inúteis somos atropelados por uma profunda sensação de solidão crônica.

Os orelhões hoje não são mais feitos para os humanos. Todos os humanos, no mínimo, já tem celulares. Os orelhões são feitos para fazer companhia aos postes, aos muros ou as árvores. Só orelhões é que sabem a dor de não ter ninguém. Mais que qualquer um. No fundo todo orelhão tem uma ponta de conhecimento sobre isolamento. Os orelhões sabem o que é esperar. Eles esperam horas a fio. Sem orgulho. E foi assim que quando eu escutava “cada um de nós imerso em sua própria arrogância esperando por um pouco de afeição”, em Esperando por mim, e sentia o desespero que é nos acostumarmos a se afogar em nós mesmos, como também percebia que é desesperador pensar que sempre esquecemos de olhar para as coisas que sofrem pela falta de nosso primeiro passo para erradicar a solidão. A solidão só deveria ter sido feita para a arte. Não para nós, nem para os orelhões.

Comments:
e tem tantas outras coisaas deixadas na solidão com essa modernidade...até os cds são poucos usados hj, o walkamen..

e muitas vezzes nós mesmos...
 
adorei a idéia dos orelhões serem companhia para os postes, genial

beijos, querido

MM.

>>> o show foi demaaaais
 
Ainda me restam alguns vinis...e uns cartões da operadora local caso o celular fique fora de área.

bjs
 
belo olhar!!! (fundamental pra quem escreve bem).
 
Adorei o texto!
Um mes atras me senti um peixe fora d'agua, celular descarregou e me encontrava perdidamente perdida no centro de Manaus, sem encontrar a pessoa que marcara um encontro comigo. Pimeiro pedi auxilio de um desconhecido (estava sem credito), resolvi comprar um cartao telefonico, paguei cinco pilas por ele, fui ate um conjunto de orelhoes, eram 5, dos quais 4 estavam quebrados, e tive de esperar por 6 minutos um senhor acabar de marcar com uma garota de programa seu encontro. Enfim, ainda existe orelhoes para nos salvar das circunstancias....Mas nao da solidao em si.
 
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