27 junho 2009

 

Quando quero chover


Acho engraçado quando os pingos de chuva ficam se equilibrando sobre os fios. Isso é o que me faz às vezes pensar que certas coisas da vida deveriam ser mais simples do que aparentemente são. É no detalhe das gotas que se equilibram na umidade do inverno que espanto as coisas que me consomem no dia a dia. Penso que nossos olhos nos pedem tão pouco, e na maioria das vezes somos tão mesquinhos a ponto de olhar apenas para o que é abocanhado pelo que nossa carne pede. Aprendo que a cerração da chuva respingando na parede é quase uma pintura que se compõe em sua incoloração. Aprendo que inventar aquilo que a gente vê é desfigurar o que a gente nunca pretendeu sentir. Porque se tem coisas que não existem, cabe a nós inventá-las sempre, como uma pluma que atravessa o ar, acaricia o vento e lentamente desce com sutilidade buscando o chão. É quando o lamento de não sentir o toque dá a vez ao surpreendente. E surpreender é encantar. E o encanto nasce antes mesmo de haver algum aceno, como uma gota que se equilibra sobre os fios, toca o chão faz nascer o improvável. É assim que creio que um pingo de chuva é capaz de inundar um homem.

Comments:
a chuva é minha amiga, conheço há tempos.
Sempre bem-vinda, inunda mesmo, não tem piedade.
Mas lava a alma quando precisa.
 
Beleza de imagem poética. Continue nesse ritmo, meu querido Wagner Marques. Bjos de luz, Grauninha
 
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