11 abril 2009

 

Paralelos entre Alcoforado e Florbela

Foto: Florbela Espanca



Tela: Mariana Alcoforado

É interessante, quando se fala em mulheres que despejaram suas dores em seus escritos como vem logo à tona os nomes da Mariana Alcoforado e da Florbela Espanca, apesar destas duas terem vivido em épocas largamente distintas. Sobre a primeira, atribuem-se cartas que circulavam com transbordamentos líricos de um amor quase impossível, tendo esta freira como autora, descoberta muitos anos depois. Da segunda, poetisa de forte pulso sentimental que escreve sob o prisma de uma conquista intangível. Pensando bem, há mesmo algo em comum entre elas. Ressalte-se que uma na prosa, outra na poesia. Por ora, percebe-se a dor da impossibilidade a qual as duas agarram por se verem insaciadas. Transcrevo um escrito de cada autora, paralelos de almas femininas que se prenderam a uma poética de evasão:

“Ordena-me que morra de amor por ti! Suplico-te que me ajudes a vencer a fraqueza própria de uma mulher, e que toda a minha indecisão acabe em puro desespero. Um fim trágico obrigar-te-ia, sem dúvida, a pensar mais em mim; talvez fosses sensível a uma morte extraordinária, e a minha memória seria amada. Não é isso preferível ao estado a que me reduziste?
Adeus. Era melhor nunca te ter visto. Ah, sinto até ao fundo a mentira deste pensamento e reconheço, no momento em que escrevo, que prefiro ser desgraçada amando-te do que nunca te haver conhecido. Aceito, assim, sem uma queixa, a minha má fortuna, pois não a quiseste tornar melhor. Adeus: promete-me que terás saudades minhas se vier a morrer de tristeza; e oxalá o desvario desta paixão consiga afastar-te de tudo.”

(Mariana Alcoforado – trecho da Carta 3ª)


Amor que morre

O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!

(Florbela Espanca)

Comments:
Obrigada pela visita!
Gostei daqui, Wagner!

Que a poesia
também se esconde
atrás de imagens
atrás de palavras

Às vezes
ela não quer
rimar!

Abraço.
 
Wagner,
que surpresa boa foi chegar aqui e encontrar, de imediato, Mariana Alcoforado e Florbela.
Um abraço
 
esse pathos que une as duas.
bonito paralelo, querido.

vim agradecer a visita e o comentário. Meu blog está todo melado desse teu gozo, viu?

abraço
 
Olá querido,

Obrigada por me visitar de novo...
Quanto aos elementos sacros...
mesmo não sendo religiosa eles estão super presentes em meu verso...
Uma relação que transcende significados...E vc é religioso?
vamos falar mais sobre..
abração
Flô
 
ps- Sou Louca apaixonada por Florbela!!!!!!
"Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,"

Amo,porque em mim está impresso...
 
Trechos-trechos, mas o que é teu?
Que vem produzindo?
Não leva a mau, gosto de ver coisa nova. Gosto de criação.
Abaixo a reprodução, diria Paul Celan.

Abraços
 
o amor que morre para dar espaço ao riso do amor inesperado que nasce... não sei apra que tanto desespero, o primeiro homem que me compreendeu me disse que eu preciso dessa "melancolia" para eu escrever e me sentir acesa enquanto escrevo... na hora eu refutei... hoje eu concordo...
as flores são comuns e únicas... obrigada pela delicada passagem em meu blog tão comum.
 
você é bem mais sincero que eu. bem mais. Obs: sou do tipo vendedor de frutas verdes.
 
Sou fã de carteirinha da Florbela... grande poetiza!
Seus versos me encantam, acho louvavel a profundidade com que ela escreve.

Lindo post.

BeijOs
 
muito bem escolhido os textos.... e legal o paralelo entre prosa e verso!
 
Olha, o visitante era graduado em letras, que nobre. Estou cá eu fazendo meu terceiro período... um dia eu chego lá! \o/

Lendo os textos... u.u
 
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