17 dezembro 2008

 


Pintura de Monet

Das folhas soltas no jardim

Folhas. Soltas no jardim. E era preciso que alguém dissesse que aquilo ali se tratava de folhas. Era preciso mesmo. As pessoas passavam como se não conhecessem que se tratava de folhas. Era o vento que as arrastava. Ia varrendo-as. Como pesar ou indiferença de quem as via sem nenhum alarido, ficava um pouco do que era arrastado no olhar de cada transeunte que pela rua passava. Ficava então um pouco do olhar (ou dos olhos?) nos rastros que ficavam tatuados no chão. Não há nada tão triste como folhas soltas num jardim. Folhas que secas ficam estalando como se procurassem registrar em cada estalo o dor de se apartar de onde nasceram. E sempre existe uma dor em toda separação. Assim também é com as pessoas – não precisa dizê-lo. Mas um jardim é sempre triste quando não o olham. Mais ainda, quando não o contemplam. Pois talvez as folhas se larguem para acusar o esquecimento que as acomete. Um jardim é uma confissão de que a vida não pára na derrota que nos quedou, na lágrima que nos fugiu, nos problemas que não solucionamos. É porque um jardim nos diz sempre que existe sempre uma chance de recomeçar: quando cada flor obedece ao ciclo que possui. De silêncio: é o que precisa um jardim. Um silêncio que o faça tocar o coração de quem por ele passa. E quando não o consegue? Ah, deixai que os passarinhos o perceba. Um jardim é sempre mais feliz quando os passarinhos o percebe. Ainda que sequer cheguem a brincar com as folhas. As folhas gostam de brincar com os passarinhos. As folhas não têm medo. E assim é sempre. Tem-se a impressão que é sempre o melhor é não ter medo. E as folhas o fazem, como se ao se sentirem soltas descobrissem que existe um desejo de não se revelar na dor dos que passam e não as olham.

Comments:
Belo. "Um jardim é uma confissão..." Fato. Já leu o conto "Kew Gardens" de Virginia Woolf?? Meu conto favorito. Uma luva para seu post...
 
Venho retribuir a visita. Parabéns pelo seu blog!

Sucesso e, quando quiser postar algo, o Di-versificando está à disposição.

Abraço!

Poeta Felipe Júnior - www.di-versificando.blogspot.com
 
Retribuindo a visita Wagner.

Vc me escreveu da minha veia poética , lhe escrevo : que olhar poético!
Definitivamente vc alterou tudo que pensarei a partir de agora quando olhar folhas no chão.

Belíssimo.
 
OLá, amigo Wagner! Tudo bem? Nossa!Que texto belíssimo! Fiquei encantada! Parabéns! Andei sumda, né? O sumiço é por conta do trabalho. Ando mesmo sem tempo,mas hoje consegui atualizar o meu blog que já estava cheio de poeira. rs Aproveito a visita de hoje para desejar que tenha um lindo Natal e um 2009 pleno de realizações! BJos e um lindo fim de semana!
 
verdadeiro, texto alá A. Cury. Que encanta. acalanta.

abraçares mocinho de Guns
 
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