17 novembro 2008

 


Pintura de Picasso



POR ONDE ANDAM OS GATOS?

Não que seja um animal que eu goste. Mas andei sentido falta de alguns deles no telhado de minha casa por esses meses. Gatos. Animais que julgo ser a preguiça em forma de bicho. Nunca tive vontade de criar um sequer. Salvo se fosse para que me servisse de saco de pancadas, de tapete para limpar os pés, para lançá-los à distância etc. (zoofobia?!). Havia um tempo em que entre a laje e o telhado de minha casa, juntava-se uma colônia destes bichos, e varavam a noite se acasalando sob a chuva de estrelas da primavera. Coisa que agora sinto falta, incrivelmente sinto falta. Paradoxalmente, não dos astros luminosos, mas tão somente dos gatos, ou melhor, do sofrimento e o conseqüente miado doloroso das gatas. A mim, parece que o sexo entre gatos é mais uma sessão de masoquismo animal. Penso isto ao escutar os clássicos renitentes miados que mais parecem ser gritos torcidos como se fosse o som de uma vitrola em rotação desajustada. Porém, gosto de ouvir o esganiçar felino daqueles bichos quando estão no ato amoroso. Gosto de ouvir, mesmo quando acordam minha família: minha mãe com os cabelos arrepiados pelas tantas da madrugada indo à cozinha tomar um copo d’água para se acalmar do susto que tivera depois dos primeiros sopapos no telhado. “Ah esses gatos de novo”, sentença dela. Nada que não me faça achar interessante aqueles bichos esburacando o silêncio da noite, como se houvesse mais prazer em debaterem-se sob o telhado do que propriamente sentirem o prazer entre si. Acho que os gatos preferem mais o sexo pelo barulho do que pelo prazer. Uma vizinha minha também acreditava nisso, e olhe que ela entendia bem de gatos. Criava vários. Mais que isso, cultuava-os. E eu nem chegava perto dela por causa disso. Só de raro, quando ela ia me mostrar como os capava: amarrava uma linha de nylon, presa com força nos testículos do bicho; com a outra ponta da linha, prendia em nó-quase-cego na grade do portão de sua casa: daí, fazia um susto qualquer de modo que o gato pudesse correr/arrancar em desespero. Pronto: ficava ali aquelas coisinhas murchas presa à linha: os testículos. O miado do gato fugia à linha: ganhava outro nome: o gato ficava quase rouco, esperniava, não sabia o que era anestesia. Não desistia. Passava dias amuado, quieto, num canto da casa. Após mais ou menos parcos seis dias, quando já estava desobrigado da dor da castração, ia procurar as gatas, sem saber que não mais corria o risco de emprenhá-las. Estava pronto pra fazer dos telhados seus ninhos, mesmo sob os gritos os quais as estrelas nunca reclamavam.

Comments:
amor e dor

já tinha ouvido falar dessa técnica pra arrancar dente de leite, para castrar gato nunca...
gostei daqui.
 
Eu amo gatos. Morri de dó dessa tecnica de castração...

:*
 
“Com o Prêmio Dardos reconhecemos os valores que cada blogueiro mostra a cada dia no empenho em transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, em demonstrar, em suma, sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras.”

Com estas palavras, o Blog Graça Graúna recebeu o Premio Dardos, conferido por Márcia Sanches Luz. Com este prêmio recebi também o direito de homenagear 15 Blogs. Para tanto, os homenageados que desejarem exibir o selo devem seguir a sugestão seguinte:
1- Linkar o blog do qual recebeu o prêmio.
2 - Escolher 15 blogs para entregar o Prêmio Dardos e colocá-lo em seu blog (explicando ou não o motivo da premiação) e enviar esta mensagem ou outra com seu estilo a cada um dos escolhidos, como sugere a poetamiga Márcia. Nessa perspectiva, o meu abraço e o Premio Dardos vai para:

Aníbal Beça
A Amazônia é nossa
Claudia alma de poeta
Cores da palavra
Daniel Munduruku
Dhnet
Eliane Potiguara
Gilia Gerling
Interpoética
Linhas do desassossego
Madalena Barranco
Maniçoba dos meus versos
Olívio Jekupé
Repórter Free
Thiago de Melo


Nordeste do Brasil, 17 de novembro de 2008.
Graça Graúna
 
Menino, eu também não ficaria perto dessa vizinha, não pelos gatos, mas por essa violência.
Coincidência: acabei de postar o gatinho daqui de casa tomando banho.
Tenho uma vizinha que tem fel no coração. Corro dela.
Um abraço,
 
Cara, desde pequeno tenho muito, mas muito medo mesmo do sexo dos gatos... para mim, parece uma sessão de descarrego da Igreja Universal... hahaha...

Valeu.
 
demorei para responder, mas apareci...

vou dar uma lida no blog!
 
Rapaz, gostei muito do seu blog. Tanto pela difusão da cultura como pela forma leve de escrever, gostosa para o leitor (comecei a ler lá em cima e vim descendo), o blog é muito, muito bom mesmo.
Um forte abraço do João!
 
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