02 abril 2008
Aí, o trecho de um conto meu que sairá numa Revista literária (eita, esqueci o bendito nome da Revista) a ser lançada no mês de maio, em Sorocaba.
(...) durante a manhã estava mudo, como um revólver abafado. Dócil. Sereno como uma pequena pétala que se larga ao chão. Imóvel. Seus olhos ficavam suspensos, num semblante que variava entre assustado e irritado. Ficava com a cara por avermelhar num sol escaldante, sempre. As pregas de seu rosto acusavam não um homem velho ou vencido pelos anos, mas sim um homem arrastado covardemente e apulso pelas correntes do tempo. Não era ao menos a brancura de seus cabelos que o fazia sentir-se cansado, talvez tão somente seu corpo que vinha a pesar sobre ele mesmo, como a culpa maldita a qual um suicida assume diante de si. Assumir culpa é desproteger-se. E assim o fazia. Desprotegia-se. Assumia a culpa de ser um miserável. Ficava inerte, jogado na rua como quem se desespera e procura um alguém que não se acha. E não achar alguém que se procura é um motivo para desproteger-se. (...)
(...) durante a manhã estava mudo, como um revólver abafado. Dócil. Sereno como uma pequena pétala que se larga ao chão. Imóvel. Seus olhos ficavam suspensos, num semblante que variava entre assustado e irritado. Ficava com a cara por avermelhar num sol escaldante, sempre. As pregas de seu rosto acusavam não um homem velho ou vencido pelos anos, mas sim um homem arrastado covardemente e apulso pelas correntes do tempo. Não era ao menos a brancura de seus cabelos que o fazia sentir-se cansado, talvez tão somente seu corpo que vinha a pesar sobre ele mesmo, como a culpa maldita a qual um suicida assume diante de si. Assumir culpa é desproteger-se. E assim o fazia. Desprotegia-se. Assumia a culpa de ser um miserável. Ficava inerte, jogado na rua como quem se desespera e procura um alguém que não se acha. E não achar alguém que se procura é um motivo para desproteger-se. (...)