15 novembro 2007

 

foto: Raduan Nassar


Neste post, transcreverei o capítulo 22 do livro Lavoura Arcaica (de Raduan Nassar), publicado em 1975. A meu ver, um dos melhores livros da literatura brasileira. Vale a pena lê-lo. Primeiro, pela singularidade espetacular do narrador-personagem. Depois, porque é um dos poucos livros que conseguem manter uma densidade psicológica tão original. Sem delongas, vale a pena lê-lo porque esse livro se afasta de confrontos, conflitos ou semelhanças com outro qualquer. Confiramos:


22

“...e quanto mais engrossam a casca, mais se torturam com o peso da carapaça, pensam que estão em segurança mas se consomem de medo, escondem-se dos outros sem saber que atrofiam os próprios olhos, fazem-se prisioneiros de si mesmos e nem sequer suspeitam, trazem na mão a chave mas se esquecem que ela abre, e, obsessivos, afligem-se com seus problemas pessoais sem chegar à cura, pois recusam o remédio; a sabedoria está precisamente em não se fechar nesse mundo menor: humilde, o homem abandona sua individualidade para fazer parte de uma unidade maior, que é de onde retira sua grandeza; só através da família é que cada um em casa há de aumentar sua existência, é se entregando a ela que cada um em casa há de sossegar os próprios problemas, é preservando sua união que cada um em casa há de fruir as mais sublimes recompensas; nossa lei não é retrair mas ir ao encontro, não é separar mas reunir, onde estiver um há de estar o irmão também...” (Da mesa dos sermões.)

 

NAS LINHAS DO MACHADÃO

Enfim, terminei de ler hoje Memorial de Aires. Do velho Machado. Último romance seu. Livro excelente. Longe de comparações às Memórias póstumas ou mesmo Dom Casmurro. Mas mantém, sim, a maestria da narrativa contida nestes. Porém, seria ousadia qualquer comparação entre estes. De qualquer sorte, o livro que terminei de ler hoje me deixou bem. Entendo que este Memorial é um canto à relação entre a decrepitude de um homem e seus anseios fugidios. Isso se explicita quando a personagem principal, conselheiro de Aires, – um velho diplomata aposentado – se rende ao encanto de uma jovem viúva, Fidélia, que avistara no cemitério sobrepondo flores no túmulo de seu morto; e, apartir daí, o aposentado cria expectativas de conquista, quando de repente (“não mais que de repente”) se vê flagrado pela sua velhice que aos poucos vai roubando sua própria estima. Para sua piora, ele vê um seu,Tristão, conquistá-la e ao final casar-se com a viúva Noronha. Mas, enfim, como não pode faltar às boas obras machadianas (no caso, as realistas) predomina um humor lascivo, sarcástico. É um livro que tem um selo próprio. Com etiqueta própria. Tratando da velhice como a saudade do indivíduo sobre ele mesmo. Talvez o tratado de uma alma que “poderia ter sido e não foi” o que pudera. Finalizo meu contentamento por ler este livro com uma máxima desse escritor do morro do Livramento: "Não há como a paixão do amor para fazer original o que é comum, e novo o que morre de velho" .

 

Trecho de um conto meu: “Das coisas que se solidificam”


(...) não que fosse uma palavra sólida. Conquanto o rastro de suas sílabas se apregoava na superfície da folha inerte. Não era certo dizer que havia cores no vocábulo. Era incerto afirmar que havia tonicidade do que pouco era dito nas linhas avulsas. Havia um pouco de dor nas palavras que não ousavam se entremear àquelas linhas francas. Há sempre palavras que se escondem em linhas que externam algo de franco. E era nessa sensação de alvura que a folha se deitava na espessura da mesa. Não se sabia se, de fato, o que devia se sobrepor deveria ser o barulho pela causa da ausência de sons povoarem a estanque escrivaninha. Era de todo, ruídos. Pensando bem, ruídos não. Ruídos. Ah, de fato, eram ruídos sim. Sim, porque rastros nos confundem. Toda confusão merece uma palavra: silencio. Silêncio a dor de que fica. Silêncio, palavra que se solidifica. (...)

14 novembro 2007

 
Olá, meu alguns leitores!

Para quem não sabia o motivo desse meu largo intervalo de postagens, eis alguns:

1 - o próprio motivo de não saber o porquê da conta de meu blog não está abrindo em minha casa.
2 - muito estresse devido à monografia
3 - elaboração de um artigo científico na área da Educação
4 - e o corre-corre da vida de professor...

Em breve estarei postando regularmente...

"Eu nervo interminável peito aberto"
(Lucila Nogueira)

This page is powered by Blogger. Isn't yours?