11 dezembro 2007

 

pintura de Picasso



IMOLAÇÃO DOS OSSOS (Romance)
Capítulo 2


Atinjo-me imperceptivelmente. Amargo. Erro de alvo por causa de (*), que surgiu em meu firmamento como em revoada, e parece cada vez mais fazer com que eu me afaste de mim. E quando me afasto de mim é como se me sentisse cada vez mais próximo de mim mesmo. Tem uma coisa na distância que só ela própria é quem sabe explicar. Pois a distância nasceu para tornar as pessoas curiosas. Todo mundo é imerso em suas curiosidades. Também o sou. Principalmente pelo fato de não saber o que (*) faz para me render a mim mesmo. Eu que tantas vezes sou pouco. Um pouco de tudo. Um pouco da cólica no ventre da fêmea, um pouco de quentura na pele que queima, um pouco do gozo que ficou na vulva. Todos nós precisamos ser e ter um pouco de nós mesmos nas coisas excêntricas. Só as coisas normais é quem são infelizes e monótonas. E a melhor coisa contra a monotonia é se guardar. Guardo-me de (*) porque sei que esse amor é uma verdade que não cabe em minha compreensão. Guardo-me porque é a maneira mais covarde de dizer “adeus” a mim mesmo. Nem vou, mas já fui; ora não vou, mas já me despeço. Sou o lenço branco que a mão acena no cais. A ferida inchada que estufa a carne. O fel adormecido nas artérias cardíacas. A dor que se afasta e transgride o corpo. Pretendo. Desprendo. Largo tudo ao ar. Aspiro. Estendo os braços e emudeço. Sou possibilidade. A vida é uma possibilidade, e tudo que é me cansa. Entro na dança. Desaprendo a dançar. Swingo, quebro-me. Encontro em meu corpo partido o modo mais terno de juntar-me aos pedaços. Mas pra quê juntar pedaços do que nunca esteve em unidade. Pois a diversidade do que fui me faz matéria única do que em mim se espalha. Não tenteis, pois, juntar-me. Tudo que foi unido mantém o desespero de ter sentindo a solidão de estar em seu próprio lugar. Todos têm seu próprio lugar. Não sei se o meu é em (*). Pois é quem me cria abismos. Coloca-me no cume da agulha erguida. Na elasticidade do couro seco. Não sei se ela o é. Se ela ao contrário, puder ser ele? Ponha, você, a figura do sexo que pode ser esse (*). Talvez que seja uma criatura. Um trago. Fumaça. Mamilo túmido – gotejante.

Comments:
Ola
Para devolver a visita, dizer que aqui é bom de estar.
Volte sempre, o estilo é outro mas a casa é nossa!
 
amei Guinho

beijoO

Hortta
 
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