03 agosto 2007

 

CONSIDERAÇÕES SOBRE SALIVA, CORPO, ALMA E RABUGEM


Salivava apenas. Suas palavras morriam na mudez de sua boca imunda de tanto silêncio. Ficava estanque. Com a cara fechada. Somente o movimento da baba corredoura era quem dava a impressão de movimento em seu rosto, pois o leve fio viscoso que se espremia no canto de sua boca era o que mais atraia sua face dormente. Os olhos ficavam golpeados, uma vez que seu olhar se revelava opaco e ereto. Todo olhar é sempre uma acusação. Seu nariz afilado permitia que por suas narinas escorressem um líquido que não se sabia se era catarro ou mesmo qualquer outra secreção amarelenta. Os vincos de sua testa eram caminhos desconhecidos, era fácil confundi-los com cicatrizes. Testa larga. Fronte desmedida onde o suor umedecia os cabelos ásperos que sobre ela despencava. Era fato que seu queixo apresentasse arranhões, poucos. Contudo, o que mais assombrava era um agudo corte um pouco abaixo do olho esquerdo, o olho remelento que deixava um corrediço filamento de remela pura gotejar sobre a ferida aguda que fazia com que sua pele avermelhasse os tecidos envoltos, ou por inflamação ou por irritação dos tecidos minguentos.

Ficava jogado. Em meio aos transeuntes da cidade. Ao som de motores de automóveis e pessoas que por pouco não o pisavam. Talvez não fosse mesmo notado. Quiçá fosse só um corpo inerte. Imóvel. Não se sabia se seu corpo estava vingando. O que importa o corpo para as pessoas? Ele estava ali, apenas. Salivando. Será que notavam saliva? O barulho urbano era muito. A recusa de sons era pouca. O trombar de ombros, constante. O olhar nos olhos, extinto. Como olhar para algo que unicamente ocupa poucos centímetros da calçada, quando na verdade os olhos se voltam para suas próprias moléstias? Todo olhar depende da sensibilidade do dono dos olhos. Às vezes só se ver aquilo que se quer, também às vezes só se toca naquilo que não dói a si. E talvez aquele corpo não fosse mesmo palpável; apesar de seus braços finos ainda possuírem algo apregoado ao couro, e também suas pernas acusarem algo de osso na pele rabugenta. Talvez estivesse ali mais que corpo ou qualquer rabugem. Talvez ali (es)tivesse uma alma! Mas, enfim, o que importa a alma para as pessoas?

Comments:
Pra mim importa muito, importa tudo...

Beijos
 
será, mesmo, que todo olhar é uma acusação? rsrsrs*

beijos, meu bom e boa semana

MM
 
Oi moço (voltei). Estive em fase de silencio, mas agora volto e aproveito para linkar vc no meu mundo (risos).

*Talvez ali (es)tivesse uma alma!
Nossa isso causou-me arrepios.
Gosto dos seus textos, da forma como os constrói e como nos prende pela dissolução de suas idéias.
Beijos
 
existe tantas almas assim, elas só são esquecidas, aviltadas, matratadas e o pior de todas as coisas q podem acontecer com nossa alma, ser negada sua existencia, o cerebro pode pensar, mas a alama que alimenta o corpo para andar, buscar, sentir, viver, sem alma não há vida, pra mim a alma é oq mais vale, em mim e nos outros..abraço

http://noelevador.zip.net
http://vidacretina.zip.net
 
massa, gostei muito.
 
carecãOo
 
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