24 maio 2007
Foto: Francisca Júlia
Poetisa e “Musa do Impassível”
Acredito que é, no mínimo, uma injustiça abrir livros sobre a história da Literatura Brasileira e não poder perceber o enfoque merecido a uma das grandes poetisas de nosso Parnasianismo. Falo da poetisa Francisca Júlia. É quase gritante a forma inflexível com que os autores se prendem a uma viseira que os fazem se esparramar à “trindade parnasiana” de nossa literatura: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. O crítico literário, Alfredo Bosi, afirma que já em sua estréia, com livro Mármores, essa poetisa alçou ao nível destes (que compõe a “trindade”) com a mesma fidelidade e rigidez as quais a escola parnasiana pregava. Sim, isto é muito perceptível. Todavia penso que sua poesia se destaca um pouco mais do que a dos três poetas supracitados, simplesmente por sua voz poética não se afrouxar diante do formalismo pungente da escola literária a qual Júlia imergia. Abaixo transcrevo um de seus mais belos sonetos:
Poetisa e “Musa do Impassível”
Acredito que é, no mínimo, uma injustiça abrir livros sobre a história da Literatura Brasileira e não poder perceber o enfoque merecido a uma das grandes poetisas de nosso Parnasianismo. Falo da poetisa Francisca Júlia. É quase gritante a forma inflexível com que os autores se prendem a uma viseira que os fazem se esparramar à “trindade parnasiana” de nossa literatura: Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia. O crítico literário, Alfredo Bosi, afirma que já em sua estréia, com livro Mármores, essa poetisa alçou ao nível destes (que compõe a “trindade”) com a mesma fidelidade e rigidez as quais a escola parnasiana pregava. Sim, isto é muito perceptível. Todavia penso que sua poesia se destaca um pouco mais do que a dos três poetas supracitados, simplesmente por sua voz poética não se afrouxar diante do formalismo pungente da escola literária a qual Júlia imergia. Abaixo transcrevo um de seus mais belos sonetos:
Musa Impassível
Musa! um gesto sequer de dor ou de sincero
Luto jamais te afeie o cândido semblante!
Diante de Jó, conserva o mesmo orgulho; e diante
De um morto, o mesmo olhar e sobrecenho austero.
Em teus olhos não quero a lágrima; não quero
Em tua boca o suave e idílico descante.
Celebra ora um fantasma anguiforme de Dante,
Ora o vulto marcial de um guerreiro de Homero.
Dá-me o hemistíquio d ouro, a imagem atrativa;
A rima, cujo som, de uma harmonia crebra,
Cante aos ouvidos d alma; a estrofe limpa e viva;
Versos que lembrem, com seus bárbaros ruídos,
Ora o áspero rumor de um calhau que se quebra,
ra o surdo rumor de mármores partidos.
Francisca Júlia da Silva nasceu em 31 de agosto de 1871, na antiga Vila de Xiririca, hoje Eldourado, no vale do Ribeira, São Paulo. Teve uma infância terna, se alfabetizara com sua mãe; herdara a paixão e a fissura de seu pai (advogado) pelas letras. Aos 20 anos, estréia em O Estado de São Paulo, onde publicara seus sonetos até 1892. Daí em diante, seus escritos dão um salto ao serem publicados numa série de revistas e jornais, em seu tempo, muito bem conceituados. Casa-se aos 28 anos. Passa um período de exclusiva dedicação a seu lar. Retorna às rodas literárias por volta de 1915. Daí em diante seriam publicados os seus mais belos sonetos. Um dos episódios mais marcantes de sua vida talvez tenha sido a sua própria morte: Vítima de tuberculose, Filadelfo E. Munster, seu marido, falece em 31 de outubro de 1920; desnorteada com a dor da perda, Júlia declara que não “poria véu de viúva”, ingere então boa dose de narcóticos. No posterior dia, durante o velório do corpo do marido, ela se atira ao féretro em aflição e desespero - sob efeito dos entorpecentes - falecendo aos pés do caixão de seu esposo. Era, então, 01 de novembro de 1920 quando se extinguiu a vida de uma mulher que produziu uma das mais significativas obras poéticas de seu tempo. A sonetista foi enterrada no cemitério do Araçá, em São Paulo. Sobre seu túmulo, algum tempo depois, fora construído, um inebriante mausoléu com a estátua da “Musa Impassível”, impecável obra de Victor Brecheret.
Francisca Júlia da Silva nasceu em 31 de agosto de 1871, na antiga Vila de Xiririca, hoje Eldourado, no vale do Ribeira, São Paulo. Teve uma infância terna, se alfabetizara com sua mãe; herdara a paixão e a fissura de seu pai (advogado) pelas letras. Aos 20 anos, estréia em O Estado de São Paulo, onde publicara seus sonetos até 1892. Daí em diante, seus escritos dão um salto ao serem publicados numa série de revistas e jornais, em seu tempo, muito bem conceituados. Casa-se aos 28 anos. Passa um período de exclusiva dedicação a seu lar. Retorna às rodas literárias por volta de 1915. Daí em diante seriam publicados os seus mais belos sonetos. Um dos episódios mais marcantes de sua vida talvez tenha sido a sua própria morte: Vítima de tuberculose, Filadelfo E. Munster, seu marido, falece em 31 de outubro de 1920; desnorteada com a dor da perda, Júlia declara que não “poria véu de viúva”, ingere então boa dose de narcóticos. No posterior dia, durante o velório do corpo do marido, ela se atira ao féretro em aflição e desespero - sob efeito dos entorpecentes - falecendo aos pés do caixão de seu esposo. Era, então, 01 de novembro de 1920 quando se extinguiu a vida de uma mulher que produziu uma das mais significativas obras poéticas de seu tempo. A sonetista foi enterrada no cemitério do Araçá, em São Paulo. Sobre seu túmulo, algum tempo depois, fora construído, um inebriante mausoléu com a estátua da “Musa Impassível”, impecável obra de Victor Brecheret.