16 março 2007

 

UM TIRO APENAS? NÃO ACHO QUE NÃO!


Muitas vezes penso em dar-me um tiro. De leve. Para não sentir muita dor. Paradoxalmente, quero sentir o gosto de chiclete que tem a vida. Um tiro apenas. Não sei se na nuca, no peito, na garganta, no tórax, não sei ainda. Não, isso não é um pensamento suicida. Embora pareça. É só uma vontade instantânea de por uns instantes largar o peso da vida e dar um passeio em um lugar cuja humanidade desconhece. Passeio mesmo. Desbravar o desconhecido é uma provável forma de conhecer-se. E nós, seres humanos, nos conhecemos tão pouco. Talvez seja pouco o tempo que nós temos para nos conhecer, talvez seja muito doloroso sermos sentenciados pela nossa própria alma. E é justamente daí que nasce o desgosto de muitas pessoas pela própria vida: ao serem sentenciadas medíocres. Isso é uma das coisas que as pessoas mais temem: descobrirem-se medíocres. Conquanto não haja para quê diante disso se desesperar. A vida segue ciclos, e, nestes sempre há as possibilidades de redenção. Lastimável então para aquelas pessoas que nunca buscam melhorar si mesmas.

No entanto, a vontade que me dá de dar-me um tiro já me persegue há longos dias. Se o fizer algo me diz que será uma experiência marcante. Única. Excepcional. Ímpar. Todavia, não vai deixar de ser uma atitude democrática. Coisa arbitrária. Seria algo tão pessoal e solitário quanto uma masturbação. Acho que tem momentos em nossa vida que ninguém pode decidir as coisas senão nós mesmos. A vida a cada dia cobra demais de nós. E ao mesmo tempo ela vai nos intoxicando, confundindo o preço das coisas. Veja, por exemplo, o amor: é algo gratuito em si, mas na verdade custa caro. Não estou me sentido mal ou fracassado diante da vida, é que ando procurando diversões, coisas novas. E dar-me um tiro poderia ser divertido. Poderia conhecer outro lugar (quem sabe onde a cerveja e o wisky estivessem mais em conta), outra gente. Ih, e se de repente nesse lugar houvesse músicas do Led Zeppelin, Beatles, The Doors, rolando a todo instante, poderia ser bacana...

Pensando bem, a vida não vale ao menos um tiro. É sério demais um tiro. Um dos grandes poetas hoje de Pernambuco (e sem dúvida do Brasil!), Alberto da Cunha Melo, escreveu: “tudo que levamos à sério demais torna-se amargo”. Chego à conclusão que as coisas mais sérias da vida merecem apenas a nossa melhor gargalhada. Sofremos como uns condenados, e cravar uma bala no próprio corpo seria como entregar o jogo aos 46 do 2° tempo. Gargalhada sim. Esse o melhor tiro contra a própria vida. Dar um tiro na vida procurando o alvo próprio. Darei, então, esse tiro, procurando acertar em qualquer parte: mente, coração, voz; não sei ainda. Pensarei bem. Mas me chega sempre esta a vontade de dar-me um tiro.

Comments:
Quero agradecer a sua visita ao meu blog.
Big Beijos
 
Este pode ser o verdadeiro tiro pela culatra. Maluquice total. A vida merece muitas gargalhadas embora nos brinde muitas lágrimas.
Sorrisos pra tua imaginação, carinhos pra ti
 
"Chego à conclusão que as coisas mais sérias da vida merecem apenas a nossa melhor gargalhada"

Taí uma boa conclusão.
Mas cuidado com essa história de tiro, hein?
 
Eu não esperimentaria pq doença é doida e feia.
Liliane de Paula
 
Hummm...
Primeiro: muito bom teu texto. Fiquei chocada quando comecei a ler, mas depois...
Segundo: muito obrigada pela visita.
Volterai mais vezes...

Bjs
 
desde que vc esteja falando metaforicamente deste tiro blz!Nesse caso eu tb tenho vontade de dar um "tiro" nos pensamentos, sentimentos, angustias, enfim... beijosss
 
E como nós ficaríamos sem seus textos??
Excelente semana
 
Vontades, não tem explicação... Ou tem?
Ainda bem que afora elas, existe o pensamento, e o juízo (mesmo que não perfeito).

PS: Quando achares a cidade que só rola Doors, Zeppelin, e a cerveja é barata, me chame.
 
matar-se
é o primeiro passo,
para "viver-se".
 
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