26 março 2007

 

Pintura de Modigliani



O AMOR NASCE DO SUSTO



AQUELE SILÊNCIO...


Que agonia essa coisa de te desejar em silêncio. Sabe, não entendo o amor. Como é que ele pode tornar as coisas tão conflitantes? O maior barulho por dentro e um silêncio indesejado por fora! Se eu pudesse ao menos abrir tuas carnes e no lugar de teu coração colocar uma bomba... talvez fosse menos essa vontade de atirar uma voz que não me cabe. Tenho vontade às vezes de quebrar teus ossos. Em partes pequenas. Só para juntar tudinho de novo como prova de minha atenção ao teu corpo. Eu seria capaz, sim, de arrancar teus olhos para que brincássemos de ximbra. Arrancaria teus dedos, tuas mãos para que camuflássemos as raízes do Flamboyant que esconde a frente da tua casa. Os teus pés jogaríamos no lixo, só para correr atrás do caminhão quando ao partir - fedorento - ele jogasse fumaça em nossas ventas. Eu cuspiria em teu rosto só pra te avisar que o amor continua na cena seguinte. Seríamos, a partir daí, felizes. Sem medir palavras. Nos atracando como animais. Mais fortes que os próprios instintos. Colados. Sem o romantismo dos que se matam com arsênico ou uma corda enlaçada na goela. Eu poderia, sim, ser tua corda. Acochar-te o pescoço até que o último ar do fôlego vadio te faltasse aos pulmões. Eu até que poderia ser teu couro no momento em que o teu estrebuchar colorisse tua pele, pois eu iria ordenar a todas as facas que te abrissem o bucho, do umbigo pra cima, até as proximidades da garganta. Teríamos teu último sorriso pra untarmos a deixar queimar até que o gás acabasse. Eu te perguntaria:

- Pra onde foi aquele silêncio?
Tu ficarias muda. Como uma cadela. Entupida.

- (...)
-Vadia. Cabra velha.

Essa a mais nobre entrega. Me terias como a um mendigo. Ordinário. Infame. Eu te daria algo: Mesmo a veia menos dilatada de meu pulso, como prova do sangue que me escorre sem saber aonde vai. Transviado - completamente. Não iria te dizer algo feio ou te chamar de “puta”, haveria um problema grande se você começasse a me amar ou se apaixonasse. A única coisa que, no entanto posso fazer é te arrastar de leve, de mansinho, ao canto de um jardim, e, rente ao teu ouvido soltar um arroto, como um porco que se saciou na lavagem e que agora descansa em silêncio - realizado - na lama. Ouvindo apenas o barulho interno do que cala frente à incompreensão do que é o amor.

Comments:
Wagner,
sim, o ímtimo é o melhor lugar e o amor esse desassossego também.
Grata pela presença.
Beijos.
 
ou rasga!
 
adoro quando teu palavrão colore a volúpia do extremo.
 
... quando eu crescer, quero escrever assim!!!!!!

Abração... muito boa maneira de falar de amor!!!!!!
 
distraídos venceremos... sempre!!!
um abraço imenso =)
 
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