08 março 2007

 

O AMOR NASCE DO SUSTO



TRILHAMENTO


Estes dias me disseram que deveríamos ter um manual de como sofrer menos ao lidar com o fim de uma relação, quando percebêssemos que os sentimentos, os desejos e os sonhos se extinguiram por ali - porque o fim de uma relação não é nada mais do que a percepção da extinção destes. Embora que cada fim de relação, geralmente, implica um tipo de sofrer diferente a cada indivíduo da própria relação. Penso que as dores não são nem demasiadas nem pequenas entre ambos, são a medida da doação de cada um dentro relacionamento. E se nos perguntássemos: como o amor pode ser tão rijo em seu florir, e, de repente, tão atroz em seu término? A equação desta pergunta poderia levar os olhos de nossa alma às olheiras, se com coerência quiséssemos entendê-la. No entanto, pode ser mais fácil responder qual a sequidão que faz o orvalho da relva dos sentimentos evaporar por completa; posto que, toda pergunta que se ouse responder com segurança sobre o amor coloca nosso pescoço na linha incerta das coisas as quais ele é capaz de arruinar e surpreender. “...os caminhos do amor,/só ele sabe trilhá-los”, escreveu Drummond. Como então nos sentir seguros ao iniciar uma relação sabendo que podemos não estar aptos, a mais adiante, encarar e aceitar um “possível fim”, crendo apenas que justificar esse fim será equivalente à metáfora do tiro no escuro? Aí, vem o pior: ter que aprender a lidar com o sentimento de perda, tendo que engolir que o tempo será o sumo responsável pela sua sanidade sentimental daí pra frente.

Venho a me perguntar: é necessário mesmo que soframos na experiência a dois para que possamos, paulatinamente, amadurecer como agente de uma relação? Sabe-se lá. Geralmente somos nós mesmos quem metrificamos nosso sofrimento diante das coisas. O fato é que, ainda que saibamos que estamos sofrendo diante de uma situação e que isso irá nos ajudar a crescer como pessoa, não há outro nome a chamar senão sofrimento mesmo. Mas, enfim, até que ponto nós sabemos nos equilibrar frente ao sofrimento de um desquite? Existem pessoas que acham que ao livrar-se dos horríveis sentimentos que suportam, no durante, estão livres da desgraça para sempre; se esquecem de fazer daquilo um escudo, mas não um escudo que se defendam e temam, e sim um escudo em que as façam aprender ao lidarem com seus próprios sentimentos, diante das várias possibilidades de infortúnios que a vida oferece. Na vida, o fim de uma relação parece ser a coisa mais trágica que já aconteceu com o nosso coração; isto porque é nessa hora que nos questionamos sobre a veracidade do amor, por pensarmos que existe amor em toda relacionamento em que nos envolvemos.

Creio que um manual pouco adiantaria se não tivéssemos com quem partilhar nosso sofrimento, o “manual” se tornaria uma bula de um medicamento vencido. O psicólogo americano, Mark W. Baker, afirma que “Ter a presença de uma pessoa que se mostre receptiva à nossa dor faz toda a diferença do mundo”. Sofrer pela ausência da pessoa que se apartou da gente é aceitar a morte dela em nossos planos, saciando o que há de mais insaciável no amor: a própria insaciabilidade dele! Dá-nos, então, uma sensação de erro; a gente pensa que errou o alvo. No amor não existe o erro, o que existe é a mira errada, a pontaria duvidosa. Daí, a nova chance de dar outro tiro de olhos vendados; tentando acertar a presa certa, o destino incerto, entre tantos sentimentos, desejos e sonhos - evaporáveis.

Comments:
"No amor não existe o erro, o que existe é a mira errada, a pontaria duvidosa".

Ah, o desamar...o desamar...melhor mesmo é amar...por toda a vida...a vida inteira.

Belo post.

Chris
 
O amor me corrói ao extremo. Mas é bom, é muito bom. Se na dor do audência, descobrimos-nos vazio. Na dor do amor, o vazio é multiplicado e, paradoxalmente, duplicando-se, ele nao é mais vazio.
 
No amor não existe o erro.
Existe a experiência e expectativa que seja diferente do anterior.

É como um poeta disse uma vez: "O amor acaba. Acaba pra poder recomeçar quantas vezes forem necessárias acabar."
 
Olá Vagner!
Prazer em conhecer este blog, pode ter certeza que voltarei, apenas andei com uma puta preguiça estes dias...
Olha o amor é algo que infelizmente, mesmo se tivesse manual como você disse não seria solucinável, nem mesmo teria alivio o possível fim.
Resta nos aprender a viver a felicidade e acreditar que é para sempre (mesmo que seja apenas enquanto dure, como disse o poeta).
Vivo assim, sofro depois, nos vários fins... Mas, cada vez que recomeço renasce a crença de que será eterno, sem sofrimentos!
Beijos!
 
Espero ter desaprendido esse discurso do amor( perpetuado pela literatura) que tenta dignificar esse defeito humano e que, por falta de um termo menos sedutor só pode mesmo ser chamado amor. É bom continuar atento nunca esquecendo que ele está sempre acompanhado da loucura ( de outra forma não persistiríamos no erro). Culpa de Shakespeare, se não fosse por ele estaríamos felizes entendendo o amor como a Beatriz inalcançável de Dante. Como quem sabe mesmo o que diz é o povo fico com esta: é uma flor rôxa.
 
Lindas reflexões...o ser humano é assim...sempre questionando...duplicando...
Amei seu blog e obrigada pela visita...
bjs
 
Outro poeta disse que "O amor é a coisa mais triste quando se desfaz" e é mesmo. Assim como é a coisa mais bela quando se faz!

Beijo!
 
oi querido!
estou passando por um momento assim atualmente"chance de dar outro tiro de olhos vendados"!!!
obrigado pela visitinha
bjosssss
 
Então quer dizer que moras em Recife e vais pro show do Chico? Interessante! Só fica atento pois começam a vender os ingressos dia 19 desse mês.

Acabei de ver que não tinha te linkado. Resolverei o problema.
 
(Lágrimas)

Esse post me fez lembrar.
 
frágil, volátil.
que susto!
 
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