11 dezembro 2006

 


ELOCUTÓRIO A RESPEITO DO DESAJUSTE ENTRE WITNER E SÂNZI (OU O “NÃO” COMO INCAPACIDADE DE AMAR)

“Ela era geniosa de mais pra mim.
Eu era genial demais pra nós.”
(Helder Hortta)

- É que agora não dá, tudo mudou...
Meus anjos e demônios desceram. Mais demônios do que anjos. Os anjos queriam apenas me “levar pelas mãos”. Já os demônios seriam capazes de tudo. Ouvir aquilo foi o mesmo que sentir um trem passar por cima de minha cabeça, lentamente. Já havia largado tanta coisa, outro mundo. Não iria ser fácil aceitar de uma hora pra outra qualquer escusa que justificasse uma fuga pusilâmine. Sabia que para o ser humano em qualquer situação é mais fácil dizer “não”. Contive o bicho que manifestou-se em mim, instantaneamente. Antes a tivesse engolido, dado lhe um bofetão, a chamado de puta. “Não se deve mexer com a dignidade de um homem”, tinha aprendido isso quando criança. Um pacto entre nós havia se quebrado. Aquilo iria doer? Dor de aborto: extinguir alguma coisa que não se conheceu o rosto.

Ficou evidente a vontade demasiada que tive de ofendê-la, insultá-la com os nomes mais feios possíveis. A cada segundo, ali perto dela depois de ouvir aquilo, as palavras foram me chegando fortes. Arruinar com palavras é a forma mais voraz de reduzir ou abater uma pessoa. Aproveitei-me disso para, com elegância, colocá-la abaixo dela mesma. Fiz uma análise de tudo que acontecera entre nós até chegarmos ali, usando de meu garbo, procurando depará-la com sua própria fraqueza e lástima.

A cara dela nem se mexia. A luz sobre seus olhos cada vez mais diminuía quando minhas palavras lhe roçavam a razão. Ficava muda, quieta como uma cadela com a pata quebrada. Parecia que certas verdades lhe arrombavam toda. Olhava pra mim com um olhar débil, arrastado. A incandescência de seu arrependimento duelava com a revelação de sua inaptidão a amar. Não lembro de tudo que disse, mas lembro que no fim metralhei:

- Amar é como arrumar uma casa após a mudança. É experimentar uma fruta que não se sentiu a textura e a forma. Amar, antes de tudo, é uma disposição. É uma aposta. Aceitação de um filho com um defeito que não se conhece. É um dividir uma única alma para dois corpos. É uma coisa que formiga. É um dar as mãos e carregar espontaneamente outro mundo. É conhecer até onde a gente suporta a vida. É ser vítima do espanto causado pelo o outro.

Fui embora. Ela ficou com a insegurança de uma criança; com a cara lerda, presa à facilidade de pronunciar um “não”. Pois, o “sim” para se viver um amor, implica asfixia em pessoas inseguras, como mais tarde também irá asfixiar aquelas que vão se desconhecer, por ter dado trela a pessoas recolhidas a sua incapacidade de amar.

Comments:
OLÁ WAGNER! LEGAL SEU TEXTO. ESSE HORTTA É O QUE TÁ LINKADO EM VOCÊ?
ELE ESCREVE BEM. VOU VISITÁ-LO.
DESCULPA PELA DEMORA EM TI VISITAR. VOCÊ ME VISITOU E AGORA EU TE VISITO.

ABRAÇO DO fABRÍCIO cARPINEJAR
 
hi there

http://menarique.blogspot.com/index.html
 
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