13 outubro 2006

 


(do livro: Livro de Reminiscências)
PÉ-DE-PICA
A ferida ainda estava por sarar. Percebia-se. Pois, o abanar das mãos procurando tanger as moscas era ineterrupto. Escorria um líquido viscoso, que, ora tomava dimensão de remela, ora de tutano, de mocotó de boi. Estava de fora. O joelho estava arrombado. Onde já se viu dá "carrinho" numa rua asfaltada? Mas tudo valia! Era pouco o tempo pra resolver a parada. Dois gols ou dez minutos. Essa era a principal regra. Alguém havia pedido pra sair, me convocaram. Resolvi entrar. Teimoso. Coxo. Restavam dois minutos. A bola sobrara pra mim, cara a cara com a "barrinha". Não iria errar o alvo, era bom de pontaria.

Fechei os olhos larguei o pé na bola. Uma senhora passava lenta, no outro lado da calçada. Minha pontaria falha conseguiu atingi-lhe o lombo. Caiu, estupefeda, tonta. Uns começaram: "grosso", "doido", "pé-de-pica" etc. E, outros - poucos - realmente se preocuparam com aquela decrépita mulher. Confesso que não sabia o que fazer. Com as mãos espremendo a cabeça: ficara passado; mas não sabia se estava daquele jeito por ter acertado a senhora ou por ter perdido um gol tão fácil. Corri dentro de alguns segundos para averiguar a situação da velha.

Mal cheguei perto daquela vítima de meu chute, e um homem de estatura mediana a pôs em seus braços substanciosos, carregando-a com rapidez para seu carro. "Vai levá-la ao Hospital", um dos meninos afirmou. Daí pra frente não tivemos mais notícias da velha. Também nem sequer procuramos. A velha se foi. Ficou em mim um apelido que nunca entendi. Afinal, "pica" não atira nada. Goza, faz xixi. Sem a intenção necessariamente de atingir em algo para o seu deleite. Mas deram pra me chamar sempre de "Pé-de-pica". Ironia. Pois era um dos que melhor batia na bola.

Todavia, meu joelho durante uns três dias ainda continuou liberando aquela secreção esbranquiçada, pareceu depois com gema de ovo podre, até que veio a parecer com esperma. "Meu joelho está gozando", pensei. Fiquei imaginando, essa vai ser boa para os meninos: um "Pé-de-pica", que goza pelo joelho!

Comments:
Boa crônica pé-de-pica-mole. boa mesmo. um exagero ou outro do meio pro fim, mas totalmente aceito, posto que a crônica tem um tom de jocosidade. está aprendendo comigo. está copiando a minha linguagem e a do velho Graciliano. a diferença é que a minha prosa é dura , como a minha pica.
 
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Do amor quero saber
a próxima vítima
do meu pênis...


Um grande poeta diz:

"Então as mãos de dão tchaus
são pássaros que erguem vôos."

Bem, senhor Wagner Marques, não há comparação entre os poemas de brincadeira do senhor Hortta com suas diarreias adolescentes. O grandes Poeta brasileiro (épico) marcus Accioly, não bebe. Repito, não bebe. e os elogios que ele fizera ao senhor hortta, diz respeito aos poemas do livro 'amorte' (que como o senhor deve saber é inédito ou seja o senhor nunca os leu e só os lera numa possivel edição, um livro que foi escrito aos 22 anos, que deve ser a idade que o senhor tem hoje. "isto aqui é melhor que Carpinejar, escutem...")
os poemas que o senhor Hortta disponibiliza no blog, como o mesmo afirma, são de brincadeira, nada tem relação com 'amorte'. contudo se percebe que Hortta faz poesia até brincando, uma brincadeira no melhor estilo 'quintaniano'. com relação aos ensaios o senhor Hortta não se vê com bagajem intelectual para tanto e mesmo se a tivesse esta não seria sua prioridade. Aliás, a prosa, apesar dos elogios do grande escritor Ronaldo Correia de Brito, não é levada a sério pelo senhor Hortta, como muitos gostaria que fosse. o senhor Hortta, o tempo mostrara os que viverem, é um poeta que crescera infinitamente. Ele não busca prêmios (e já está evidente que a poesia dele não ganha premios) busca sim a poesia. O senhor Hortta faz poesia e não vomitos

Não chamem do vômito o que me alimenta.
Se é com isso que me engasgo
como regugitar o que me compõe?

"eu só me engargo com poesia"

atenciosamente: Ecce Homo

(pode apagar agora rsrsrssr) marginalzinho, mamulenca do prof 'J')
 
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