24 setembro 2006

 



O VÔMITO


"- Que fazes tu? - Trabalho. - Em que trabalhas? - Penso em coisas sérias." (Dostoiévsky)

Não chamem do vômito o que me alimenta.
Se é com isso que me engasgo
como regugitar o que me compõe?
Se é pra ter paz, quantas guerras
haverei de proclamar?
Se terei que amar, quantas vezes será preciso fracassar?
Não me troquem as armadilhas por pesadelo.
De que adianta ter os olhos para o céu
quando o próprio corpo emerge da lama?
Como ter um minuto de descanso
se são poucos os segundos que
minh'alma alcança?

Espera-se, então, esses dias?
Dias que se camuflam em fósseis
escondidos no tempo,
aleijados no calendário
do último ano.

Então se deseja o refluxo, um tanto viscoso,
que rasga a laringe, formando
os únicos complementos que vêm a compor
o que basta e encerra essa
matéria pastosa que meu corpo engole,
dias a fio, sem o descanso
merecido de minha bílis.


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