01 maio 2008

 

Foto: Marcel Proust

Li uma Biografia (Escritores de sempre) sobre Marcel Proust. Este escritor francês nasceu em Paris, em 10 de julho de 1871. Sua mãe era de família judia, rica e culta; seu pai era médico. Desde a infância Proust padecia com crises de asma. Ainda no colégio, surge sua vocação literária. Cedo começou a freqüentar os salões parisienses. Durante alguns anos Proust dedicou-se a traduzir e comentar o crítico de arte inglês John Ruskin. Em 1905, a morte da mãe o deixou profundamente abalado.

A obra de Proust foi, enquanto ele viveu, objeto de grandes controvérsias entre os que a consideravam genial e os que a proclamavam impossível de ser lida. Hoje é reconhecida como fundamental na literatura francesa. Proust morreu de pneumonia em novembro de
1922. De qualquer sorte, pude perceber sua grandiosidade enquanto escritor. Enquanto homem também, de personalidade afeita pela sensibilidade à vida. Eis que transcreverei trechos de alguns romances seus:


A princípio, sonhamos conquistar o coração da mulher amada; mais tarde, perceber que já possuímos o coração de uma mulher constitui motivo suficiente para nos enamorarmos dela. Contudo, na idade em que alguns indícios levam a crer que a admiração da beleza feminina, porquanto no amor o que procuramos é sobretudo um prazer subjetivo, deveria suplantar todos os outros sentimentos, o amor pode nascer – o amor mais físico – sem que tenha havido nenhuma desejo inicial. A esta altura da vida, já fomos várias vezes atingidos pelo amor que agora não evolui mais sozinho, conforme seus desígnios desconhecidos e inevitáveis, ante o assombro e a inércia do coração.

(No Caminho de Swann, 1913)

Podemos identificar em qualquer obra de arte aqueles a quem o artista mais odiou, e ai dela, mesmo aquelas a quem o artista mais amou. [...] Assim, quando procuramos generalizar nossa dor, escrevendo sobre ela, encontramos certo consolo, talvez em virtude de uma forma abrangente, escrever significa para o escritor uma atividade tão sadia e necessária, cujo cumprimento o alegra, quanto para o desportista são os exercícios, o suor e o banho [...] Mas, sob outro ponto de vista, a obra é um indício de felicidade, porque nos ensina que em qualquer amor o geral jaz ao lado do particular, e também nos mostra como passar do segundo ao primeiro com a ajuda de uma ginástica que, negligenciar-lhe a causa para aprofundar sua mais tarde, mesmo no momento em que amamos e sofremos.

(O Tempo redescoberto (obra póstuma), 1927)

O escritor costuma dizer: “meu leitor” apenas pelo hábito contraído na linguagem arificial dos prefácios e dedicatórias. Na verdade, cada leitor é, quando lê, o leitor de si mesmo. A obra do autor não passa de uma espécie de instrumento ótico que ele oferece ao leitor para permitir-lhe que consiga discernir o que, sem tal obra, provavelmente não teria visto dentro de si. A conformidade entre o íntimo do leitor e o que diz a obra constitui a prova da verdade desta, e vice-versa...

(O Tempo redescoberto (obra póstuma), 1927)


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